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Resolver conflitos usando os princípios do evangelho

A gravação do discurso original está disponível em churchhistorianspress.org (cortesia da Conferência das mulheres da BYU).







Conferência das mulheres da Universidade Brigham Young

Centro Gordon B. Hinckley para Alunos e Visitantes,

Universidade Brigham Young, Provo, Utah

27 de abril de 2016


Gladys Nang’oni Nassiuma Sitati (nascida em 1952) foi criada para ser professora.1 Sendo a mais velha de dez irmãos, ela frequentou a escola fundamental Toloso, no vilarejo de Chwele, Bungoma, no Quênia. O pai dela era professor de inglês e matemática em uma escola distante, e quando percebeu que a filha aprendia rápido, começou a levá-la consigo para o trabalho, a fim de prepará-la pessoalmente para que pudesse entrar em um bom internato. Aos 8 anos, os pais dela também já lhe haviam ensinado a cozinhar, para que pudesse ajudar a cuidar da família quando estivesse em casa.2 A irmã Sitati conheceu Joseph W. Sitati no seu primeiro ano na Universidade de Nairóbi, com quem se casou em 1976, após concluir o bacharelado em pedagogia.3

Joseph Sitati também era de Chwele; na verdade, os dois frequentavam a mesma escola, mas não se conheciam pois meninos e meninas estudavam separadamente. A família Sitati foi para Mombasa e, posteriormente, para Nairóbi, tendo cinco filhos entre os anos de 1977 e 1983, ao mesmo tempo em que ajudavam na educação de seus irmãos e irmãs mais novos. No início de sua carreira pedagógica, Gladys Sitati deu aulas para três dos seus irmãos mais novos. Em 1983, ela conseguiu um emprego no departamento internacional do Ministério da Educação, trabalhando para facilitar a educação superior dos alunos quenianos no exterior, em países como Índia, Grã Bretanha e Estados Unidos.4

Em 1985, um casal de santos dos últimos dias americanos, que morava em Nairóbi, conheceu a família Sitati na casa de amigos, e os convidou para a Igreja. Eles foram batizados em 1986.5 Quatro anos depois, enquanto a irmã Sitati se recuperava de uma cirurgia, ela e o marido começaram a pensar seriamente sobre o conselho dado pelo então presidente da Igreja, Ezra Taft Benson, de que as mães deveriam rejeitar o mercado de trabalho e permanecer em casa para cuidar dos filhos.6 A decisão de permanecer ou não no emprego foi difícil. Os filhos e os irmãos de Gladys não tinham certeza se a família estaria em boas condições financeiras sem o salário dela. Além do mais, na época era comum que os homens em Nairóbi abandonassem a esposa e os filhos a fim de começar novas famílias, deixando-os desamparados. Tendo confiança de que seu marido se manteria fiel, e de que Deus ajudaria a prover seu sustento, a irmã Sitati pediu demissão do emprego.7

Gladys N. Sitati

Gladys N. Sitati. 2016. A irmã Sitati já foi professora e funcionária do Ministério da Educação no Quênia. Junto com seu marido, Joseph Sitati, o primeiro negro africano a se tornar autoridade geral, ela discursou em diversas congregações da Igreja em todo o mundo. Fotografia de James Findlay (Cortesia Gladys Sitati.)

Em 1991, na cidade de Joanesburgo, África do Sul, Joseph e Gladys Sitati, assim como seus filhos, tornaram-se a primeira família queniana a ser selada no templo. Joseph havia recebido muitas designações na Igreja, tendo sido o primeiro presidente de distrito e de estaca do Quênia, autoridade geral, presidente da Missão Nigéria Calabar e o primeiro negro africano a ser chamado autoridade geral. Nesse período, a irmã Sitati foi professora na Escola Dominical, na Primária, nas Moças, na Sociedade de Socorro e no seminário. Ela também escreveu uma breve história da Igreja no Quênia e serviu ao lado de seu marido na Missão Nigéria Calabar.8

Durante a missão na Nigéria, a irmã Sitati orava para saber o que fazer em prol dos missionários de quem ela cuidava. Ainda que a maioria dos missionários falasse um pouco de inglês, a maioria deles precisava de ajuda para aprimorar tanto a fala quanto a escrita. A irmã Sitati decidiu dar aulas de inglês por 30 minutos, a cada seis semanas, nas conferências de zona, e posteriormente a missão deu um dicionário e o livro Common Mistakes in English a todos os missionários. Nas conferências de zona, ela passava lições de casa e, quando as recebia, ela corrigia e fazia comentários, devolvendo-as aos missionários na conferência seguinte.

A irmã Sitati também cuidava dos problemas de saúde dos missionários. Eles dependiam inteiramente dos médicos locais, que muitas vezes se sentiam ofendidos quando os pacientes queriam saber para que servia o tratamento que estavam recebendo. A irmã Sitati mudou esse costume, determinando que os médicos precisavam dar informações aos missionários e a ela, para que continuassem a prestar serviço para a missão. Ela mantinha um registro de saúde para cada um dos seus 86 missionários, e quando era algum problema corriqueiro, ela cuidava pessoalmente deles, após ter se inteirado das doenças comuns na região. A reincidência de problemas de saúde fez com que ela incentivasse os missionários a tomarem remédios contra malária, a terem uma alimentação saudável e a se exercitar. Ela e Joseph oravam pelos missionários diariamente. “[Cuidávamos] deles da mesma maneira que [cuidávamos] de nossos próprios filhos”, disse ela. “Eu [não estava] sozinha. (…) Qualquer que fosse o tratamento que eu [passava] a eles, [era Deus quem] fazia a cura.” Além de orientar os missionários, Joseph providenciou que eles tivessem geladeiras e geradores de energia, para que pudessem manter os alimentos frescos e ter iluminação para estudar pela manhã e à noite.9

Quando a irmã de Joseph faleceu em 2004, eles adotaram os dois filhos dela e também mais dois filhos de uma prima falecida. Apesar de o filho mais novo da família Sitati já ter 19 anos, todos os filhos do casal ainda moravam com eles, então tiveram que fazer ajustes quando a família quase dobrou de tamanho. Algo que os ajudou a fazer os ajustes necessários foram os conselhos de família, uma prática que cultivavam sempre que necessário, desde que lhes havia sido ensinada quando ainda estavam conhecendo a Igreja. Mesmo enquanto os pais estavam na missão, os filhos continuaram a fazer conselhos de família por conta própria. Com frequência, quando falava aos missionários a irmã Sitati falava sobre cultivar a paz com o companheiro — ela havia visto a interferência que as diferenças culturais e a desobediência poderiam causar aos relacionamentos e ao trabalho. Ela deu o seguinte discurso a respeito do assunto em uma conferência de mulheres da Universidade Brigham Young.10

As escrituras advertem: “aquele que tem o espírito de discórdia não é meu”.11 No entanto, vivemos em um mundo com diferenças de opinião e conflitos. Precisamos evitar as contendas em nossa família, nas classes da Igreja e em nossas interações com os vizinhos. Que doutrinas e princípios nos ensinam como resolver conflitos? De que maneiras o ato de sermos “pacíficos seguidores de Cristo” pode nos ajudar a lidar com o conflito à medida que também precisamos “servir de testemunhas de Deus”?12

Irmãs e irmãos, quero compartilhar algumas reflexões e experiências pessoais a respeito da resolução de conflitos e de se evitar contendas ao nos esforçarmos para viver como pacíficos seguidores de Jesus Cristo e servir de Suas testemunhas, de acordo com os convênios que fizemos.

Ao ponderar sobre isso, me perguntei se já existiu alguém que tenha levado a vida sem conflitos ou contendas. A discórdia surge facilmente, até mesmo com aqueles que mais amamos e a quem desejamos apenas o melhor. Não é fácil ficar sempre disposto e sempre lembrar de quem somos, especialmente quando pessoas que amamos fazem coisas que sinceramente nos incomodam ou nos provocam.

Deixem-me mencionar algumas coisas que fazem com que surjam contendas:

  1. Falta de comunicação, que leva à falta de entendimento, expectativas irreais, conclusões precipitadas, desconfiança e dúvidas.

  2. Julgamentos e opiniões apressados sobre outras pessoas, que levam a ideias distorcidas sobre as intenções alheias e podem até mesmo magoar sentimentos.

  3. Competição movida pelo orgulho, que alimenta desgosto, ira e isolamento.

  4. Diferentes valores culturais, que quase sempre levam à desconfiança, preconceito e estereotipagem.

O conflito e a discórdia não são inevitáveis. Cabe a nós escolher o que fazer para evitá-los e não permitir que se agravem. No Livro de Mórmon, lemos a respeito de um povo que viveu muitas gerações em paz e alegria, após terem sido visitados e ensinados pelo Cristo ressurreto.

“E aconteceu que não havia contendas na terra, em virtude do amor a Deus que existia no coração do povo.

E não havia invejas nem disputas nem tumultos nem libertinagens nem mentiras nem assassinatos nem qualquer espécie de lascívia; e certamente não poderia haver povo mais feliz entre todos os povos criados pela mão de Deus.

Não havia ladrões nem assassinos; nem havia lamanitas nem qualquer espécie de itas, mas eram um, os filhos de Cristo e herdeiros do reino de Deus.

E quão abençoados eram eles! Porque o Senhor os abençoou em tudo que fizeram; sim, foram abençoados e prosperaram até haverem decorrido cento e dez anos. E a primeira geração depois de Cristo tinha morrido; e não havia contendas em toda a terra.”13

Como aquelas pessoas conseguiram viver em paz por tantas gerações? Elas abraçaram os ensinamentos do Salvador, que se tornaram o padrão pelo qual governavam todos os seus relacionamentos, fosse para com Deus, fosse uns para com os outros.

Por ter me convertido à Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, aprendi que se nós, que somos seguidores de Jesus Cristo, adotarmos e emularmos Seu viver e Seus ensinamentos como nosso padrão pessoal de vida, como a norma pela qual nos relacionamos com outras pessoas, erradicaremos o conflito de nossa família e de nossa comunidade, e traremos alegria e paz à terra, assim como os nefitas.

Permitam-me compartilhar cinco princípios que podem nos ajudar a evitar o conflito e a contenda.

O primeiro princípio é ter fé no Senhor Jesus Cristo.

O apóstolo Paulo ensinou que “a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que não se veem”.14

E Cristo disse: “Se tiverdes fé em mim, tereis poder para fazer tudo quanto me parecer conveniente”.15

A fé é um princípio de ação e de poder, e sempre que nos esforçamos para alcançar uma meta digna, estamos exercendo fé.16 Quando cremos em Cristo, temos esperança naquilo que fazemos, ilustramos seus atributos em nossa vida e, por isso, Ele nos abençoa.

Ao longo de nossos labores, ao exercermos paciência, mansidão e humildade, com pureza de coração, nossa espiritualidade aumenta e floresce. Nossas ações podem então transcender todas as barreiras humanas, incluindo as relações culturais, econômicas e políticas.

Vi esse tipo de fé em um ramo em Salt Lake City, conhecido como o Ramo Suaíli, onde a maioria dos membros são refugiados da África oriental, que falam suaíli.17s Vários voluntários norte-americanos se uniram a eles, que deram de si mesmos, de seus recursos e de seu tempo para ensiná-los uma vasta gama de habilidades — por exemplo, como viver e viajar nos EUA, onde encontrar escolas e empregos, como priorizar a família e a importância de se ensinar o evangelho no lar. No primeiro encontro entre os dois grupos, a comunicação era feita por meio de um intérprete, já que muitos daqueles irmãos e irmãs refugiados não eram fluentes em inglês. Aos poucos, os voluntários aprenderam algumas palavras nos dialetos tribais dos refugiados, aumentando assim a confiança entre eles e promovendo o aprendizado e o entendimento. Com o tempo, aquele se tornou um relacionamento cordial. Aqueles devotados voluntários ensinaram e trabalharam com os irmãos e as irmãs refugiados, tendo fé e diligência, para primeiramente ajudá-los a criar raízes em Cristo e, depois, para se estabelecerem e não se sentirem mais estrangeiros nesta terra. Nas atividades da ala, por exemplo, todos se alegram em compartilhar alimento uns com os outros. Recentemente, fiquei radiante ao ver a foto de algumas daquelas irmãs na capa das revistas Ensign e A Liahona, no exemplar da conferência geral em que haviam cantado no coral de estaca da sessão das mulheres.18 Agora vocês podem imaginar o quanto eles já progrediram, por meio do grande amor e diligência possibilitados pelo infinito poder de Deus.

O élder Richard G. Scott nos aconselhou: “Estenda a mão para os que vivem em situação adversa. Seja um amigo verdadeiro. Esse tipo de amizade é como o asfalto que preenche os buracos da vida e que torna nossa jornada mais suave e agradável. (…) Receba bem em seu lar outras pessoas que precisam ser fortalecidas com essa experiência pessoal. (…) Reconheça o que há de bom nos outros, não as manchas. Às vezes, as manchas precisam da devida atenção para ser limpas, mas sempre edifique sobre as virtudes da pessoa”.19

O Salvador nos ensina: “E se houver algum homem entre vós de Espírito forte, que tome consigo aquele que for fraco, para que seja edificado em toda mansidão a fim de também se tornar forte”.20

Se fizermos isso, nossos preconceitos e temores serão dissipados à medida que melhor compreendemos e amamos aqueles entre quem vivemos.

O segundo princípio que pode nos ajudar a evitar o conflito é sermos dignos de ter a companhia do Espírito Santo em nossa vida.

Uma das principais influências do Espírito Santo é nos ajudar, por meio de sua orientação, a encontrar paz nesta vida e encher nosso coração de amor, por nós mesmos e pelo próximo.

“Pelo poder do Espírito Santo podeis saber a verdade de todas as coisas.”21

Em uma situação de crescente conflito, o Espírito Santo pode nos ajudar melhor se pararmos para pensar sobre o problema previamente. O seguinte conselho, dado a Oliver Cowdery, também pode se aplicar a nós:

“Eis que não compreendeste; supuseste que eu o concederia a ti, quando nada fizeste a não ser pedir-me.

Mas eis que eu te digo que deves estudá-lo bem em tua mente; depois me deves perguntar se está certo”.22

Portanto, podemos detalhar no papel as diversas possíveis ações a serem tomadas para nos ajudar a evitar a contenda. Depois de ponderarmos e decidirmos a melhor maneira de agir, podemos humildemente nos achegar ao Pai Celestial em oração e pedir Sua aprovação. Ele enviará o Espírito Santo para nos conceder um testemunho confirmador e nos guiar naquilo que precisamos fazer. Para termos todos os benefícios desse testemunho e orientação, precisamos confiar no Senhor e em Seu tempo, e estar prontos para fazer tudo a nosso alcance.

O terceiro princípio que pode nos ajudar é a oração.

A oração, com frequência, é acompanhada de jejum, especialmente quando rogamos ao Senhor uma bênção especial.

A oração reafirma nossa fé no Pai Celestial e no Senhor Jesus Cristo. Ela reafirma nossa humildade e confiança na intervenção a nosso favor proporcionada pelo poder expiatório do Salvador. Na epístola aos romanos, Paulo explicou dessa maneira: “E da mesma maneira, também o Espírito ajuda as nossas fraquezas; porque não sabemos o que havemos de pedir como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis. (…) Todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus. (…) Se Deus é por nós, quem será contra nós?”23

O Senhor também nos ensina que quando somos sinceros e persistentes em nossas orações, seremos respondidos.24

Por quem devemos orar?

Cristo ensinou: “Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo, e odiarás o teu inimigo. Eu vos digo, porém: Amai vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem”.25

Uma história contada pelo presidente Howard W. Hunter, de quando ele era bispo, ilustra o funcionamento desse princípio. Um membro de sua ala procurou-o para dizer que havia na congregação um homem de quem ele não gostava. O presidente Hunter disse àquele irmão que fosse para casa e orasse pelo homem de quem ele não gostava, de manhã e à noite, por duas semanas, e então o procurasse novamente. Quando voltou, aquele irmão relatou que ficou sabendo que o homem de quem não gostava estava passando por problemas e precisava de ajuda. E ele iria ajudá-lo.26 Tais experiências nos incentivam a orar por aqueles por quem nutrimos sentimentos ruins, ou por aqueles que nos maltrataram. Quem sabe eles não precisem de nossa ajuda?

Quero dizer também que a maioria das coisas com as quais nos preocupamos — coisas que disseram ou fizeram contra nós — não contribuem para a nossa salvação ou a do próximo. São coisas sem importância quando comparadas àquilo que Deus preparou para nós em Seu glorioso reino. Nossa aparência humana pode diferir, mas por dentro somos iguais. Nós nos sentimos mal quando somos tratados injustamente ou quando somos ignorados, desrespeitados ou discriminados. Se for difícil para nós ver o bem nas outras pessoas, podemos orar para receber essa valiosa dádiva. “Que a virtude adorne teus pensamentos incessantemente; então tua confiança se fortalecerá na presença de Deus.”27

Se nossos pensamentos forem puros, o Espírito confirmará essa verdade para aqueles com quem convivemos. Aprendi que o Espírito de Deus não mente.

Recentemente, li um artigo escrito por Kelsey Dallas no Deseret News, a respeito da oração, que ela descreve como uma ferramenta para resolução de conflitos à disposição dos casais, que fortalece e estabelece a paz no casamento. A prática de orar individualmente e em família pode lançar o alicerce de relacionamentos relativamente sem conflitos, em especial se os cônjuges veem a Deus como uma Deidade que os ama e que pode abençoar seu relacionamento com felicidade e sucesso. Tais casais, que oram diariamente, invocam a Deus para abençoá-los com a capacidade de cuidar do bem-estar um do outro.28

O quarto princípio sobre o qual quero falar é o perdão.

Imagine que fizemos tudo o que podíamos para viver em paz com nossos vizinhos, mas ainda assim surgem conflitos. O que devemos fazer?

Pedro queria saber isso quando perguntou: “Senhor, até quantas vezes pecará meu irmão contra mim, e eu lhe perdoarei? Até sete? Jesus lhe disse: Não te digo: Até sete; mas, até setenta vezes sete”.29

Se seguirmos esse padrão, seremos capazes de resolver todos os conflitos, encontrar paz e fazermos muitos amigos.

Falando em perdão, o presidente Gordon B. Hickley ensinou: “Vemos a necessidade [de perdão] no lar das pessoas, quando pequenos desentendimentos se transformam em gigantescas discussões. Nós a vemos entre vizinhos, quando diferenças insignificantes resultam em ressentimentos infindáveis. Nós a vemos nos relacionamentos profissionais, quando colegas de trabalho brigam e se recusam a se comprometer e a perdoar, sendo que na maioria das vezes se tivessem a disposição de sentar e conversar calmamente, o assunto poderia resolvido, para a bênção de todos. Em vez disso, passam os dias nutrindo rancores e planejando retaliações”.30

Muitos de nós sentimos dificuldade em perdoar aqueles que nos fizeram o mal. Precisamos orar para sermos capazes de fazê-lo com o auxílio do poder expiatório do Salvador.

Aqueles que já perdoaram, conhecem a alegria e a liberdade que acompanha o perdão. Somos mais felizes, reclamamos menos e é mais fácil conviver conosco.

O quinto princípio é o amor.

Dois anos atrás, em seu discurso na sessão da manhã de domingo da conferência geral, o presidente Thomas S. Monson ensinou:

“O amor é a própria essência do evangelho, e Jesus Cristo é nosso Exemplo. Sua vida foi um legado de amor. (…)

Comecemos agora, hoje mesmo, a expressar amor a todos os filhos de Deus, sejam eles nossos familiares, nossos amigos, meros conhecidos ou completos desconhecidos. Ao levantar-nos a cada manhã, decidamos agir com amor e bondade em relação a tudo o que nos ocorrer.”

O presidente Monson também disse:

“Não podemos amar verdadeiramente a Deus se não amarmos nossos companheiros de viagem nesta jornada da mortalidade. Da mesma maneira, não podemos amar (…) nossos semelhantes se não amarmos a Deus, o Pai de todos nós. (…) Somos todos filhos espirituais de nosso Pai Celestial e, portanto, irmãos e irmãs. Se tivermos isso em mente, será mais fácil amar todos os filhos de Deus”.31

Essa verdade ensinada pelo presidente Monson é a maneira perfeita de se ficar em paz com outras pessoas, a começar por nossa família. Começamos reconhecendo uns aos outros. Perguntar aos membros da família se dormiram bem traz um bom espírito para o lar.

É costume nas ilhas do Pacífico e na África (exceto em regiões urbanas), parar e cumprimentar as pessoas que cruzam nosso caminho. Perguntamos a respeito de nossas famílias. Dessa forma, você se conecta com a pessoa e estabelece um relacionamento amigável.

O Salvador ordena que amemos a todos os homens:

“Pois, se amardes os que vos amam, que galardão tereis? Não fazem os publicanos também o mesmo?

E se saudardes unicamente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os publicanos também assim?

Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus”.32

Aprendi que o amor é uma ferramenta poderosa em nossas mãos. Nascemos para amar e ser amados. Mas o espírito de amor é sobrepujado por aspirações mundanas, tais como o desejo de sermos considerados melhores do que outros, a cobiça, a luxúria, o egoísmo, o orgulho e outros hábitos ímpios.

Nosso Salvador Jesus Cristo é a personificação do amor. Quando estava pregado na cruz, sofrendo uma dor extrema, e os soldados O ofendiam, Ele orou ao Pai para que os perdoasse, dizendo que não sabiam o que faziam. Que amor! Precisamos ter esse tipo de amor no coração, para vivermos em paz com outras pessoas.

Por ter crescido em uma família de dez irmãos, nós às vezes discordávamos, mas os sentimentos ofensivos não duravam muito, pois nossos pais cuidavam para que houvesse um ambiente de paz e amor no lar. Quando crescemos e saímos de casa para estabelecer nosso próprio lar, continuamos a trabalhar juntos em um esforço unido para apoiar nossos pais idosos. Essa fórmula funcionou bem até poucos anos atrás, quando meu pai faleceu.

O elo que nos unia começou a enfraquecer. Seguindo o padrão descrito no Livro de Mórmon, grupos começaram a se formar e o espírito de crítica se tornou o passatempo favorito de alguns.

Por ser a filha mais velha dos meus pais, ouvi as reclamações de meus irmãos e irmãs e os aconselhei individualmente por vários anos. Porém, a situação apenas se agravou. Assim, ao nos prepararmos para nossas férias em dezembro do ano passado, decidimos tentar trazer paz aos vários grupos que se haviam formado e convocamos um encontro de família.

Para resolver os conflitos, cada um pôde falar sobre o que estava sentindo, sem ser interrompido. Enquanto falávamos, percebemos que alguns vinham nutrindo mágoas a muito tempo. Eles falaram com sinceridade, dirigindo a palavra a meu marido, como se pedindo sua ajuda. Em seguida, meu marido dirigiu-se a cada um deles, parafraseando suas reclamações e perguntando se concordavam com o resumo que ele fizera. Depois, ele perguntou a cada um, do primeiro ao último, o que estavam pessoalmente dispostos a fazer para trazer paz, independente do que os outros já haviam falado.

Por fim, debatemos as respostas usando a maravilhosa escritura encontrada em Filipenses, que diz:

Completai a minha alegria, para que sintais o mesmo, tendo o mesmo amor, o mesmo ânimo, sentindo uma mesma coisa.

Nada façais por contenda ou por vanglória; mas por humildade, cada um considere os outros superiores a si mesmo.

Não atente cada um para o que é seu, mas cada qual também para o que é dos outros.33

Para encerrar aquele encontro de família, meu marido agradeceu a todos por terem se aberto e expressou sua esperança de que encontraríamos paz na vida se nos voltássemos com frequência para o sábio conselho do apóstolo Paulo. Houve um espírito de grande alívio e paz no fim da reunião. Observamos que nos quatro meses após a reunião, não ouvimos falar de nenhuma discórdia, pelo que sou muito grata ao Senhor.

Em seu discurso na conferência geral de outubro de 2014, o élder Dallin H. Oaks nos aconselhou, dentre outras coisas, a buscar as coisas que nos trazem paz ao convivermos com outras pessoas; a praticar a civilidade quando outros têm opiniões diferentes; a abdicar da discórdia e praticar o respeito; e a sermos gentis para com aqueles que escolhem não guardar os mandamentos de Deus. Ele salientou que a gentileza tem poder.34

Tanto quanto nos for possível, devemos manter contato com aqueles de quem discordamos, em especial familiares. Ao convidá-los para atividades familiares e falarmos coisas boas a seu respeito, fazemos com que saibam que os amamos. No devido tempo, o Senhor pode enternecer seu coração. Creio que um ingrediente importante para o sucesso de nosso encontro de família foi termos dado um presente especial de nossa família para cada um de meus irmãos, de modo que vieram para o encontro sabendo o que sentíamos por eles.

Quando temos um relacionamento conturbado, precisamos nos perguntar: Honestamente, o que desejo para esse relacionamento? O que eu faria no lugar da outra pessoa? O que estou disposto a deixar de lado para que tenhamos paz?

O seguinte conselho do rei Benjamim é muito útil, pois relembra os convênios que fizemos com Deus:

“E digo-vos novamente, como disse antes, que, como haveis adquirido conhecimento da glória de Deus, ou seja, se haveis conhecido sua bondade, experimentado seu amor e recebido a remissão de vossos pecados, o que causa tão grande alegria a vossa alma, ainda assim quisera que vos lembrásseis (…) [de] sua bondade (…) e que vos humilhásseis com a mais profunda humildade, invocando diariamente o nome do Senhor e permanecendo firmes na fé (…).

E eis que vos digo que, se fizerdes isso, sempre vos regozijareis e estareis cheios do amor de Deus (…).

E não tereis desejo de ferir-vos uns aos outros, mas, sim, de viver em paz e dar a cada um de acordo com o que lhe é devido”.35

Permitam-me resumir os cinco princípios que podemos aplicar para a resolução de conflitos e contendas em nossos relacionamentos:

Primeiro, a fé no Salvador Jesus Cristo é o começo do desejo de confiar no Senhor em nossas circunstâncias, sabendo que Ele nos ajudará a carregar nossos fardos e trazer conforto a nossa alma.

Segundo, a fé no Senhor Jesus Cristo nos leva a fazer aquilo que convida a companhia do Espírito Santo, que pode nos encher de “esperança e perfeito amor” por todas as pessoas e todas as coisas.36

Terceiro, a “diligência na oração” nos ajuda a continuar desfrutando da companhia do Espírito Santo, a sermos cheios de amor e a sobrepujarmos as tentações do adversário, que podem se manifestar por meio de provocações e conflitos.37

Quarto, cheios do amor de Deus, podemos não só perdoar o próximo, mas também ajudá-los a ter esperança e uma melhor visão daquilo que podemos nos tornar.

Por fim, cheios do amor de Deus, podemos transcender todas as barreiras que nos impedem de ter paz, harmonia e união com todas as pessoas.

Para concluir, exorto cada um de nós a “prosseguir com firmeza em Cristo (…) e amor a Deus e a todos os homens”, e também ouvir o conselho do Salvador, de que a discórdia é do diabo e deve ser eliminada.38

Que cada um de nós encontre amor e paz, onde quer que estejamos; que sirvamos como verdadeiras testemunhas de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo; e que sejamos capazes de fazer todas as coisas por meio de Seu poder expiatório.

Deixo isso com vocês em nome de Jesus Cristo. Amém.

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