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Por que estamos organizados em quóruns e Sociedades de Socorro

Acesse o YouTube.com para assistir ao discurso original. (Cortesia da BYU Speeches.)

Discurso feito em um devocional da Universidade Brigham Young

Marriott Center, Universidade Brigham Young, Provo, Utah

17 de janeiro de 2012


Julie Bangerter Beck, nascida em 1954, morou em São Paulo, Brasil, dos 4 aos 9 anos de idade, quando seus pais supervisionaram a Missão Brasileira. O trabalho missionário permeou a infância da irmã Beck e de seus irmãos: em vez de brincar de casinha ou jogar bola, eles brincavam de “missão”, fingindo serem missionários e usando roupas de ex-missionários.1 Os batismos na Missão Brasileira eram realizados no mesmo quintal onde as crianças da família Bangerter brincavam.2 A irmã Beck disse que sempre viu seus pais agirem com “completa devoção e dedicação ao serviço na Igreja e ao legado de fé que os movia a ambos”.3

Em 1974, pouco após ter se casado com Ramon P. Beck e se mudado para sua cidade natal, Alpine, Utah, os pais da irmã Beck foram chamados para abrir a Missão Portugal Lisboa.4 Ela disse que, naquela época, “a Sociedade de Socorro tornou-se a minha mãe. Aquelas mulheres deram um passo adiante e foram exemplos para mim”.5 Naquela época, as diversas organizações da Igreja se reuniam durante a semana, e não em um único bloco ao longo de três horas aos domingos, por isso a irmã Beck podia ensinar na Sociedade de Socorro e também na Primária, além de ser professora visitante. “Todas as irmãs da Sociedade de Socorro ajudavam a ensinar na Primária, e todas sabíamos que receberíamos outras designações para edificar o reino”, conta ela.6 Em Alpine, a irmã Beck serviu por sete anos na presidência da Sociedade de Socorro da estaca.7 Ela serviu na junta geral das Moças, sob a presidência da irmã Margaret D. Nadauld, supervisionando o comitê que revisou o programa Progresso Pessoal.8 Quando a irmã Susan W. Tanner foi chamada como presidente geral das Moças em 2002, ela chamou a irmã Beck como sua primeira conselheira. Como membro da presidência geral, a irmã Beck falou em português em uma transmissão em 2006, para a Espanha e Portugal.9 A primeira vez em que ela serviu como presidente da Sociedade de Socorro foi na presidência geral da organização, a partir de 2007.10

Um grande legado de sua liderança foi o livro Filhas em Meu Reino, que foi traduzido para vinte e três idiomas e distribuído para todas as mulheres da Igreja.11 A irmã Beck visualizava a irmã Eliza R. Snow atravessando os Estados Unidos carregando o Livro de atas da Sociedade de Socorro de Nauvoo, até chegar ao Vale de Salt Lake, onde ela foi de ala em ala procurando restabelecer a organização. Ela sentia que Deus havia colocado aquela imagem em sua mente para guiá-la na produção de Filhas em Meu Reino, a fim de que todos os lares tivessem um livro que, assim como as atas da Sociedade de Socorro de Nauvoo, afirmasse com clareza o senso de história e de propósito da Sociedade de Socorro.12

Ao estudar a história da Sociedade de Socorro, a irmã Beck também foi levada a redefinir e enfatizar o propósito da organização. Os propósitos originais da Sociedade de Socorro em Nauvoo eram cuidar dos pobres e necessitados e também salvar almas.13 A presidência da irmã Beck foi edificada sobre essas ideias, em um esforço para aplicá-las em uma Igreja mundial e alinhá-las com a missão da Igreja, que é “levar a efeito a salvação e a exaltação [dos filhos de Deus]”.14 Ela resumiu o foco principal da nova declaração de propósito como “fé, família e auxílio”.15 Ela também salientou o ensino familiar como uma das maneiras pelas quais os membros podem cumprir o propósito da Sociedade de Socorro.16 Ao visitar ramos em todo o mundo como presidente geral da Sociedade de Socorro, ela percebeu que muitos membros se desculpavam pelo tamanho pequeno de seus grupos. Relembrando o pequeno ramo de sua infância no Brasil, ela dizia: “Não se preocupem. É nos pequenos ramos, onde todos ajudam, que a Igreja é boa e forte”.17 Ela deu o seguinte discurso em um devocional na Universidade Brigham Young, quase no fim de seu período como presidente.

Obrigada pela recepção que tive hoje na Universidade Brigham Young. Adoro esta universidade e me sinto abençoada por todas as oportunidades de sentir o espírito que só existe neste campus. Por causa do meu serviço na Junta de Educação da Igreja, posso testificar do interesse do Senhor nesta instituição maravilhosa e, em sua honra, vesti meu melhor uniforme azul da BYU hoje.18

Ao ponderar esta oportunidade de falar a vocês, vários assuntos diferentes me vieram à mente. O Espírito insistiu em me dar ideias sobre o motivo pelo qual estamos organizados em quóruns e Sociedades de Socorro.

Embora esse provavelmente seja um tema incomum para a maioria de vocês levar em consideração, espero que o Espírito me use para lhes ensinar algumas coisas que vão abençoar sua vida à medida que continuam a fortalecer sua fé no Senhor Jesus Cristo e contribuem para a edificação de Seu reino.

Quando eu era menina, meu pai foi chamado para presidir a Missão Brasileira.19 Na época, havia uma única missão no Brasil. Não havia estacas ou alas. Não havia um quórum de élderes em todo o país. Isso significa que não havia mestres familiares. Havia mais de 40 ramos, que geralmente eram presididos por missionários que realizavam uma reunião sacramental semanal e, às vezes, a Escola Dominical e algumas atividades do ramo. Meu pai tinha servido como presidente de estaca e bispo antes de ser chamado como presidente de missão, e ele sabia como estabelecer a Igreja do Senhor. Começou a organizar ramos e distritos no padrão que conhecemos hoje, em preparação para as futuras estacas e alas.

Para começar a organização, algumas prioridades foram seguidas. Em primeiro lugar, era chamado um presidente do ramo e depois eram chamados um presidente do quórum de élderes e uma presidente da Sociedade de Socorro. Sabia-se que não poderia haver um ramo que funcionasse sem um presidente de quórum e uma presidente da Sociedade de Socorro.

Quando o profeta Joseph Smith começou a estabelecer a Igreja nesta dispensação, o Senhor o instruiu a seguir padrões inspirados semelhantes. Quando estabeleceu o padrão para a Sociedade de Socorro, ele disse às irmãs que elas estavam organizadas “sob o sacerdócio, segundo o padrão do sacerdócio”.20 Isso deu às irmãs responsabilidades oficiais na Igreja restaurada e a autoridade para exercer essas responsabilidades. Era um padrão semelhante ao que é dado a um presidente de quórum de élderes, que deve aconselhar-se com sua presidência.21

Antes que possamos entender por que estamos organizados dessa maneira, pode ser útil recapitular a definição de quórum do sacerdócio e Sociedade de Socorro. Muitas pessoas têm o conceito equivocado de que um quórum ou uma Sociedade de Socorro é apenas uma classe ou um lugar para se sentar no terceiro horário da Igreja, aos domingos. Talvez parte desse equívoco tenha começado a se desenvolver quando a Igreja combinou suas reuniões mais importantes em um bloco de três horas nos domingos.22 Antes dessa época, as reuniões do quórum e da Sociedade de Socorro não eram vinculadas à reunião sacramental nem à Escola Dominical.

Um quórum do sacerdócio é um grupo de homens com o mesmo ofício no sacerdócio que deve realizar um trabalho especial. O privilégio de ser membro de um quórum foi chamado de “uma cidadania estável e sustentadora”.23 O presidente Boyd K. Packer disse que os quóruns são “assembleias seletas formadas por irmãos que receberam autoridade para dirigir os assuntos do Senhor e levar adiante a Sua obra”.24 Ele também disse que “no passado, quando um homem era nomeado para um grupo selecionado, seu encargo, sempre escrito em latim, descrevia a responsabilidade da organização, definia quem deveria ser membro dela e, depois, invariavelmente incluía as palavras: quorum vos unum, que significavam ‘dos quais desejamos que sejas um’”.25

O presidente Spencer W. Kimball ensinou que “a Sociedade de Socorro é a organização do Senhor para as mulheres. Complementa o treinamento do sacerdócio ministrado aos irmãos”.26 A palavra sociedade tem um significado praticamente idêntico ao da palavra quórum. Sua conotação é a de “um grupo… permanente que coopera”, distinguindo-se por suas metas e crenças comuns.27 Quando Joseph Smith organizou as irmãs, ele lhes disse que “[deveria] ser uma sociedade seleta, separada de todos os males do mundo, especial, virtuosa e santa”.28 O presidente Joseph F. Smith ensinou que a Sociedade de Socorro tinha sua própria identidade e que havia sido “criada por Deus, autorizada por Deus, instituída por Deus e ordenada por Deus a ministrar em favor da salvação da alma das mulheres e dos homens”.29

Os propósitos da Sociedade de Socorro são aumentar a fé e a retidão pessoal, fortalecer a família e o lar, procurar os necessitados e oferecer-lhes auxílio.30 O quórum deve servir ao próximo, promover união e irmandade, ensinar aos membros do quórum as doutrinas e os princípios do evangelho e cuidar da Igreja.31

Fazer parte de uma Sociedade de Socorro ou de um quórum é uma designação para um modo de vida. Devemos servir como parte de um quórum do Sacerdócio de Melquisedeque ou de uma Sociedade de Socorro por toda a vida. A partir do quórum ou Sociedade de Socorro, somos chamados para servir em outras designações e organizações da Igreja, como o trabalho missionário, o serviço no templo, a Escola Dominical, o Seminário ou Instituto, os Rapazes, a Primária, as Moças e assim por diante. Não importa a organização em que servimos, sempre mantemos nossa “cidadania” e nossa responsabilidade com o quórum ou com a Sociedade de Socorro. O presidente Packer ensinou que todo o serviço na Igreja fortalece o sacerdócio maior e a Sociedade de Socorro e é uma demonstração de nossa devoção à nossa condição de membros da Sociedade de Socorro ou do quórum.32

É verdade que cada um de nós tem a responsabilidade de se tornar um discípulo fiel e cumpridor dos convênios do Senhor Jesus Cristo. Alguns talvez argumentem que podemos realizar isso como indivíduos, sem o benefício de um grupo de apoio. Mas o presidente David O. McKay disse que se os homens do sacerdócio desejassem “apenas distinção pessoal ou exaltação do indivíduo, não haveria necessidade de grupos ou quóruns. A própria existência desses grupos, criados por autorização divina, determina nossa dependência uns dos outros, a necessidade indispensável de ajuda e assistência mútuas”.33

Se o Senhor decidiu nos organizar assim, é importante que busquemos maior compreensão do motivo pelo qual fomos organizados dessa maneira e depois procuremos cumprir a visão que Ele tem a nosso respeito. Para facilitar essa compreensão, pesquisei profundamente as escrituras e as palavras dos profetas para ilustrar, apenas brevemente, cinco motivos importantes pelos quais estamos organizados em quóruns e Sociedades de Socorro.

Um dos motivos pelos quais temos quóruns e Sociedades de Socorro é o de nos organizar sob o sacerdócio e segundo o padrão do sacerdócio.34 Nosso Deus é um Deus de ordem, e tudo o que Ele faz para edificar Seu reino é feito por meio dos Seus padrões do sacerdócio.

Um desses padrões é a organização de alas e estacas, cada qual com seus limites geográficos. Cada ala é dirigida por um bispo que possui as chaves, ou a autoridade de Deus, para sua ala. Ele é o pastor do rebanho do Senhor dentro da ala e tem o encargo de cuidar das necessidades temporais e espirituais desse rebanho. Somente ele pode autorizar as ordenanças que são essenciais para a salvação dos membros desse rebanho. Sua responsabilidade é monumental e é mais difícil porque ele é apenas um, não lhe sendo possível cuidar de todas as ovelhas ao mesmo tempo. Os líderes do quórum e da Sociedade de Socorro são vistos pelo bispado como subpastores que magnificam, ampliam e distribuem o seu cuidado.

A formação de uma presidência também é um padrão do sacerdócio. Todo presidente de quórum de élderes e toda presidente de Sociedade de Socorro de uma ala preside e dirige as atividades do quórum de élderes ou da Sociedade de Socorro na ala.35 Os líderes do quórum e da Sociedade de Socorro recebem uma medida de autoridade divina referente ao governo e instrução das pessoas que foram chamados para liderar.36 São homens e mulheres que foram “[chamados] por Deus, por profecia e pela imposição de mãos”.37 Presidir significa assistir, supervisionar e liderar.38 Isso significa que os líderes da Sociedade de Socorro e do quórum de uma ala têm a responsabilidade de supervisionar e controlar o trabalho da Sociedade de Socorro e dos quóruns em nome do bispo.

O apoio daqueles que foram chamados para liderar também é um padrão do sacerdócio. Não escolhemos nossos líderes por voto popular como é comum nas organizações de fora da Igreja. É um ato de fé no Senhor e naqueles que foram chamados para liderar em Sua Igreja, declarando que vamos apoiar suas ações e sua responsabilidade de liderar-nos. Quando Joseph Smith organizou a Sociedade de Socorro, ele “exortou as irmãs a sempre concentrar sua fé e orações em favor daquelas que Deus indicou para ser honradas, depositando confiança nelas, naquelas que Deus colocou à frente para liderar”.39

Um dos padrões do sacerdócio que desfrutamos é a capacidade de receber revelação. Quando Joseph Smith organizou a Sociedade de Socorro, ele disse que as irmãs deviam “receber instruções por meio da ordem que Deus estabeleceu — por intermédio das pessoas que foram designadas para liderar”.40 Essa capacidade e promessa concernentes à revelação pessoal é uma das bênçãos extraordinárias que toda presidência de quórum ou Sociedade de Socorro recebe. Quando o Senhor disse que cada um de nós devia aprender nosso dever e agir no ofício para o qual fomos designados, Ele proveu um meio para que façamos isso.41 Eu vejo humildes presidências de Sociedade de Socorro e de quórum em muitas partes do mundo liderando com grande e inspiradora habilidade porque estão organizados sob o sacerdócio e de acordo com a ordem do sacerdócio. Eles seguem o padrão que lhes permite obter revelação para o trabalho que foram designados a realizar.

Por ocasião do centenário da Sociedade de Socorro, a Primeira Presidência escreveu:

Pedimos a nossas irmãs da Sociedade de Socorro que nunca se esqueçam de que ela é uma organização singular em todo o mundo, porque foi organizada sob a inspiração do Senhor (…) Nenhuma outra organização de mulheres em toda a Terra teve uma origem assim.42

Um segundo motivo pelo qual estamos organizados em quóruns e Sociedades de Socorro é o de concentrar a atenção dos filhos e das filhas do Pai Celestial no trabalho de salvação e fazê-los participar dele. Os quóruns e Sociedades de Socorro são um discipulado organizado com a responsabilidade de auxiliar na obra de nosso Pai de levar a efeito a vida eterna de Seus filhos. Não estamos no ramo do entretenimento, estamos engajados no trabalho de salvação. A filiação a um quórum de élderes ou a uma Sociedade de Socorro geralmente vem após um significativo investimento do Senhor e de Seus líderes no ensino e na preparação de jovens membros da Igreja para esse trabalho. O trabalho de salvação inclui o serviço missionário e a retenção de conversos. Devemos fazer tudo o que pudermos para trazer de volta à atividade aqueles(as) de nosso grupo que se enfraqueceram na fé. O trabalho do quórum e da Sociedade de Socorro também se concentra no trabalho de templo e história da família. Temos a responsabilidade de ensinar o evangelho e de ser um exemplo do viver reto uns para com os outros.

O trabalho de salvação também inclui a tarefa de melhorar nossa autossuficiência temporal e espiritual. E como grupo, nos certificamos de que os necessitados e os pobres recebam auxílio. O élder John A. Widtsoe definiu o trabalho de salvação da Sociedade de Socorro como “alívio da pobreza, doença, dúvida, ignorância — alívio de tudo que impede a alegria e o progresso da mulher”.43 Essas mesmas responsabilidades são dadas a um quórum. Essas são responsabilidades honrosas e pesadas. Denotam uma confiança sagrada e implicam uma contribuição significativa para a obra de salvação do Senhor — um trabalho que é ao mesmo tempo um fardo e uma bênção. Quando os quóruns e as Sociedades de Socorro se unem nesse trabalho, é como se cada qual assumisse um remo do barco e o ajudasse a se mover rumo à salvação.

Quando estamos organizados em Sociedades de Socorro e quóruns, nosso discipulado individual é ampliado e nos engajamos com outros no trabalho de salvação que foi estabelecido pelo Salvador. Isso nunca é algo despretensioso ou inconsequente. Isso nos obriga a nos elevar a um nível mais alto de discipulado e a ter maior maturidade espiritual. Com frequência, é um trabalho que exige longanimidade e paciência e pode parecer ingrato, porque geralmente há uma visível ausência de reconhecimento público pelo bem que realizamos. O élder Widtsoe ensinou que “salvar almas abre todo o campo da atividade e do desenvolvimento humano”.44 A obra de salvação é guiada pelo Espírito, que confirma nossas ações, assegura-nos de que temos a aprovação do Senhor e nos proporciona a verdadeira alegria advinda da afirmação de nosso sucesso.

O terceiro motivo pelo qual estamos organizados em quóruns e Sociedades de Socorro é o de ajudar o bispo a administrar sabiamente o armazém do Senhor. O armazém do Senhor inclui “o tempo, os talentos, a compaixão, os materiais e os meios financeiros” dos membros da Igreja.45 Os talentos dos santos devem ser usados para ajudar a cuidar dos pobres e necessitados e edificar o reino do Senhor. O Senhor visualiza “todo homem procurando os interesses de seu próximo e fazendo todas as coisas com os olhos fitos na glória de Deus”.46

Os bispos estão encarregados do armazém do Senhor, e eles dependem dos quóruns e da Sociedade de Socorro para ajudá-los a procurar e cuidar de todos em suas alas. Cada ala é única e, podemos dizer assim, tem seu próprio DNA. Por isso, é essencial que os líderes do quórum e da Sociedade de Socorro trabalhem em conselho para ajudar o bispo a gerenciar e repartir os recursos do Senhor. Juntos, eles avaliam os pontos fortes e as habilidades das pessoas e se certificam de que as ovelhas do Senhor recebam cuidado.

Nosso Salvador ensinou esse princípio de muitas maneiras durante Seu ministério mortal, e as escrituras contêm muitos exemplos de como Ele cuidou dos necessitados. Em toda ala sempre há algumas almas dedicadas que fazem todo o trabalho enquanto outras negligenciam seu dever e deixam de oferecer seus dons. Os líderes do quórum e da Sociedade de Socorro têm a responsabilidade de organizar e exercer um ministério inspirado para ajudar todos os irmãos e irmãs a cumprir seus convênios de se lembrar do Salvador e de consagrar a vida à Sua obra.

Se agíssemos por conta própria, talvez preferíssemos cuidar apenas das pessoas benquistas, cativantes e gratas de nossa ala. É bem mais desafiador cuidar daquelas que são difíceis de amar, que têm problemas complicados e sérios, ou que não parecem ser gratas por nossa ajuda. O Salvador disse:

Amai vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem;

Para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus; porque faz que o seu sol se levante sobre os maus e os bons, e a chuva desça sobre os justos e os injustos.

Pois, se amardes os que vos amam, que galardão tereis? Não fazem os publicanos também o mesmo?

E se saudardes unicamente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os publicanos também assim?

Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus.47

Uma das mais importantes maneiras pelas quais esse tipo de cuidado é dividido entre os irmãos é por intermédio dos mestres familiares e das professoras visitantes. O presidente Henry B. Eyring disse: “O único sistema que pode prover auxílio e consolo em uma igreja tão grande e em um mundo tão variado seria por meio do serviço individual a pessoas necessitadas que estejam mais próximas”.48 O élder Bruce R. McConkie, que serviu fielmente como apóstolo do Senhor Jesus Cristo, disse que um élder era “um pastor que serve no redil do Bom Pastor”. Ensinou que os mestres familiares “têm uma posição de destaque” e que “seu chamado é oficial”. Eles são “enviados pelo presidente do quórum, pelo bispo e pelo Senhor”. Em sua opinião, “o maior defeito do sistema de ensino familiar na Igreja é que ele quase não é usado”.49

O presidente Thomas S. Monson afirmou:

O programa de ensino familiar é uma resposta a uma revelação moderna que encarrega os que são ordenados ao sacerdócio a “ensinar, explicar, exortar, batizar e zelar pela igreja (…) e visitar a casa de todos os membros, exortando-os a orarem em voz alta e em segredo e a cumprirem todas as obrigações familiares, (…) zelar sempre pela igreja, estar com os membros e fortalecê-los; e certificar-se que não haja iniquidade na igreja nem aspereza entre uns e outros nem mentiras, maledicências ou calúnias” (D&C 20:42, 47, 53–54). (…)

Lemos no Livro de Mórmon que Alma “consagrava todos os sacerdotes e todos os mestres; e ninguém era consagrado a não ser que fosse um homem justo. Portanto zelavam por seu povo e edificavam-no com coisas pertinentes à retidão” (Mosias 23:17–18).

Ao desempenhar nossas responsabilidades no ensino familiar, seremos sábios se conhecermos e compreendermos as dificuldades enfrentadas pelos membros de cada família.50

A professora visitante também deve considerar sua designação “como um chamado do Senhor”.51 O presidente Kimball disse às irmãs: “Em muitos aspectos, seus deveres são bastante semelhantes aos dos mestres [familiares], que em resumo devem ‘zelar sempre pela igreja’ não 20 minutos por mês, mas sempre”.52

O trabalho das professoras visitantes e o ensino familiar se tornam a obra do Senhor quando nossa atenção está centrada nas pessoas e não em percentuais. A perfeição de nossas estatísticas não é normalmente uma boa medida de nosso serviço.53 Jamais podemos dizer: “Terminei meu trabalho de mestre familiar ou professora visitante!” Quando representamos o Senhor, estamos sempre a serviço Dele. O presidente Thomas S. Monson ensinou: “O ensino familiar é mais do que apenas uma visita rotineira uma vez por mês, para que o relatório estatístico da ala seja satisfatório. Temos a responsabilidade de ensinar, inspirar, motivar e trazer para a atividade e, por fim, conduzir à exaltação os filhos e filhas de Deus”.54 Quando prestamos contas de nosso serviço a cada mês, devemos relatar sobre o bem-estar espiritual e temporal daquelas a quem fomos designadas para cuidar. Podemos também relatar qualquer serviço que tenhamos prestado. As necessidades especiais ou urgentes precisam ser sempre relatadas imediatamente.55 As únicas medidas verdadeiras desse trabalho são a confirmação do Espírito por nosso empenho e quando as pessoas que ficamos encarregadas de cuidar são capazes de dizer três coisas importantes: (1) “Meu mestre familiar ou minha professora visitante me ajuda a crescer espiritualmente”; (2) “Sei que meu mestre familiar ou minha professora visitante se importa profundamente comigo e com minha família”; e (3) “Se eu tiver um problema, sei que meu mestre familiar ou minha professora visitante entrará em ação, sem esperar ser convidado”.

O Senhor disse: “E se houver algum homem entre vós de Espírito forte, que tome consigo aquele que for fraco, para que seja edificado em toda mansidão a fim de também se tornar forte”.56 Se essas medidas de avaliação forem nossa meta, organizaremos e funcionaremos de modo inspirado e não apenas programático.

O quarto motivo pelo qual estamos organizados em quóruns e Sociedades de Socorro é prover um refúgio e uma defesa para os filhos do Pai Celestial e suas respectivas famílias nos últimos dias. O presidente Thomas S. Monson disse: “Estamos hoje organizados contra o maior exército de pecados, vícios e males já reunido diante de nossos olhos (…). O plano de batalha que seguimos para salvar a alma dos homens não é nosso”.57

Estamos em meio a uma provação na mortalidade. Todos escolhemos esta provação, e o Senhor vai garantir que todos a tenhamos. Um antigo conceito errôneo e contrário a Cristo é o de que as pessoas suficientemente inteligentes ou ricas conseguirão evitar os problemas.58 Isso não é verdade! Em nossa vida e no mundo de hoje estamos tendo uma experiência completa dos “tempos trabalhosos” dos últimos dias descrito por Paulo a Timóteo.59 Enquanto nossa época se torna cada vez mais difícil, os irmãos e irmãs fiéis nos quóruns e Sociedades de Socorro são protegidos nos lares de Sião da voz estridente do mundo e da influência provocadora do adversário.

Foi-nos ensinado pelo élder Dallin H. Oaks que “uma das grandes funções da Sociedade de Socorro é proporcionar irmandade às mulheres, assim como os quóruns do sacerdócio proporcionam irmandade aos homens”.60 Temos a bênção de fazer parte de uma irmandade que proporciona “um lugar de cura, amor, bondade, preocupação e envolvimento”.61 O presidente Packer disse: “Esse grande círculo de irmãs será uma proteção para cada uma de vocês e para sua família. A Sociedade de Socorro pode ser comparada a um refúgio. (…) Nela vocês estarão a salvo. Ela envolve cada irmã como um muro de proteção”.62 Ele disse: “Como é consolador saber que, para onde quer que uma família vá a família da Igreja estará à espera. Desde o dia em que chegam, ele vai pertencer a um quórum do sacerdócio e ela vai pertencer à Sociedade de Socorro”.63

O élder D. Todd Christofferson contou novamente a história do irmão George Goates, que em seis dias perdeu o filho Charles e três filhos pequenos de Charles durante a epidemia de gripe de 1918.64 Naquela semana, o irmão Goates fez os caixões, cavou as sepulturas e ajudou a preparar as roupas mortuárias. Seu filho e seus netos morreram na semana em que ele deveria fazer a colheita de sua plantação de beterrabas, que ficaram congelando no solo. Depois dos enterros, ele e outro filho foram aos campos para ver se poderiam salvar a colheita. Quando chegaram, viram os membros de seu quórum saindo do campo vazio. O quórum havia colhido todas as beterrabas para ele. Foi então que aquele homem que havia demonstrado tanta força na semana anterior sentou-se e chorou como uma criança. Olhou para o céu e disse: “Obrigado, Pai, pelos élderes de nossa ala”.65

Seja qual for nossa provação na mortalidade, podemos ter esse sentimento de irmandade e ter o apoio e a força de muitos a nosso redor. O Senhor disse: “Também o corpo tem necessidade de todos os membros, para que todos sejam juntos edificados, a fim de que o sistema se mantenha perfeito”.66 É na irmandade da Sociedade de Socorro e na irmandade dos quóruns que devemos encontrar refúgio e proteção das tempestades e calamidades dos últimos dias.

O quinto motivo pelo qual estamos organizados em quóruns e Sociedades de Socorro é fortalecer-nos e apoiar-nos em nosso papel e nossa responsabilidade na família como filhos e filhas de Deus. Embora muitas de nossas responsabilidades na Igreja sejam paralelas, os filhos e as filhas de Deus têm responsabilidades especiais e distintas na família e na Igreja. Os quóruns e Sociedades de Socorro devem ensinar os filhos e filhas de nosso Pai Celestial e inspirá-los a preparar-se para as bênçãos da vida eterna. Nosso Pai vê o potencial de Seus filhos e de Suas filhas para serem líderes na família. Portanto, tudo o que fazemos nos quóruns e nas Sociedades de Socorro é para ajudar o Senhor em Sua missão de preparar Seus filhos para as bênçãos da vida eterna que Ele visualizou para nós. Com essas definições espera-se que aprendamos a fazer parte da família eterna de nosso Pai Celestial.

O quórum e a Sociedade de Socorro ajudam os líderes de família e os futuros líderes de família, auxiliando-os a estabelecer padrões e práticas de conduta justa e cumprimento de convênios em sua vida. Os irmãos e as irmãs incentivam uns aos outros a orar sempre, a pagar o dízimo e as ofertas, e a renovar convênios com o Senhor no dia santificado. Devem ajudar uns aos outros a tornarem-se suficientemente amadurecidos para fazer e cumprir os convênios sagrados do templo.

O quórum e a Sociedade de Socorro devem ajudar-nos a tornar-nos quem o Pai Celestial deseja que nos tornemos. Joseph Smith ensinou às irmãs, usando 1 Coríntios, a importância de desenvolver qualidades semelhantes às de Deus. Ele disse que as irmãs estavam organizadas “de acordo com sua natureza” e “colocadas em uma situação em que possam agir de acordo com esses sentimentos de compaixão que Deus nelas plantou”.67 É por esse motivo que o lema da Sociedade de Socorro “A Caridade Nunca Falha” foi escolhido.68

A irmã Eliza R. Snow, segunda presidente geral da Sociedade de Socorro, disse às irmãs:

Queremos ser mulheres de verdade, não mulheres segundo o conceito do mundo, mas companheiras idôneas dos Deuses e de pessoas santificadas. Podemos ajudar umas às outras de maneira organizada, não apenas fazendo o bem, mas aperfeiçoando a nós mesmas; e, sejam poucas ou muitas as mulheres que participem desta sociedade e ajudem a realizar esta grande obra, essas são as que ocuparão posições de honra no reino de Deus. (…) As mulheres devem ser mulheres, e não bebês, que precisam de atenção e correção o tempo todo. Sei que gostamos de ser elogiadas; mas, se não formos reconhecidas como achamos que merecemos, que importa?69

É no quórum que os irmãos aprendem a “erguer-se” como “homens de Deus” e “abandonar as coisas de menor importância. Dedicando-se de coração, alma, mente e força para servir o Rei dos reis”.70 O trabalho do quórum e da Sociedade de Socorro esclarece a identidade e a responsabilidade dos filhos e das filhas de Deus e os une em defesa de Seu plano. O presidente Harold B. Lee declarou:

Parece claro para mim que a Igreja não tem escolha — e nunca teve — a não ser esforçar-se para ajudar a família a cumprir a missão divina que ela tem, não apenas porque essa é a ordem do céu, mas também porque é a contribuição mais prática que podemos dar a nossos jovens: ajudar a melhorar a qualidade de vida nos lares dos santos dos últimos dias. Por mais importantes que sejam nossos muitos programas e organizações, eles não devem tomar o lugar do lar, mas, sim, apoiar o lar.71

Como o Senhor disse a Emma Smith, devemos “deixar as coisas deste mundo e buscar as coisas de um melhor. (…) Apega-te aos convênios que fizeste.(…) Guarda meus mandamentos continuamente e receberás uma coroa de retidão”.72 Cada um de nós é uma filha ou um filho amado por Deus com sagradas responsabilidades individuais. Nos quóruns e Sociedades de Socorro aprendemos e somos inspirados a nos tornar as pessoas que nosso Pai Celestial nos criou para nos tornarmos.

Há muito trabalho que um quórum precisa fazer como quórum e muito que a Sociedade de Socorro deve fazer como círculo de irmãs, e há muito que precisa ser coordenado entre ambos. Como “a Igreja do Senhor é governada por meio de conselhos”,73 é importante que a presidente da Sociedade de Socorro seja incluída nas reuniões do comitê executivo do sacerdócio, nas quais são abordados assuntos confidenciais e nas quais o bispo pode facilitar a coordenação dos mestres familiares e das professoras visitantes.74

O presidente Gordon B. Hinckley disse:

Será um dia maravilhoso, meus irmãos (…) quando nossos quóruns do sacerdócio se tornarem um sustentáculo para cada um de seus membros, quando cada homem for capaz de dizer: “Sou membro de um quórum do sacerdócio de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Estou pronto para ajudar meus irmãos em suas necessidades e tenho certeza de que eles estão prontos para me ajudar nas minhas. Trabalhando juntos, cresceremos espiritualmente como filhos do convênio de Deus. Trabalhando juntos, podemos resistir, sem embaraço ou medo, a todo vento de adversidade que possa vir a soprar, seja econômico, social ou espiritual”.75

O presidente Packer declarou recentemente aos irmãos da Igreja: “Precisamos de todos. Os cansados ou fatigados ou preguiçosos e até os que estão sob o peso da culpa. (…) Há um número demasiadamente grande de nossos irmãos do sacerdócio que vivem aquém de seus privilégios e das expectativas do Senhor”.76 Em uma das primeiras reuniões da Sociedade de Socorro Feminina de Nauvoo, Joseph Smith admoestou as irmãs a “viver de modo a estar à altura de seus privilégios”.77 De modo semelhante, o presidente Packer disse o seguinte às irmãs da Sociedade de Socorro:

Apoiem a causa da Sociedade de Socorro! Fortaleçam-na! Frequentem suas reuniões! Dediquem-se a ela! Convoquem as inativas e façam com que as irmãs que não são membros sejam influenciadas por ela. Está na hora de unir-se a esse círculo mundial de irmãs. Uma Sociedade de Socorro forte e bem organizada é fundamental para o futuro e a segurança desta Igreja.78

Grande parte do que foi ensinado hoje pode ser encontrado em Filhas em Meu Reino: A História e o Trabalho da Sociedade de Socorro. Esse novo recurso da Primeira Presidência pode ajudar os irmãos e as irmãs a aprender como cumprir suas responsabilidades. Por meio dessas e de outras instruções, “sabemos como agir e como dirigir a igreja, como proceder com respeito aos pontos da lei do Senhor e dos mandamentos que Ele nos deu”. Estamos agora comprometidos a “[agir] em toda a santidade diante [Dele]”.79

O que o Senhor visualizou com relação aos quóruns e as Sociedades de Socorro ainda não foi plenamente utilizado. Muitos quóruns e Sociedades de Socorro estão no momento como gigantes adormecidos esperando que vocês lhes deem nova vida.

Presto-lhes meu testemunho de que o verdadeiro evangelho restaurado de Jesus Cristo está na Terra. Meu testemunho dessa restauração foi fortalecido por saber que os quóruns e Sociedades de Socorro foram estabelecidos para que o Senhor pudesse organizar Seus filhos e Suas filhas sob o sacerdócio e segundo o padrão do sacerdócio. Por esse meio, Ele emprega Seus filhos em Sua obra de salvação e na sábia administração de Seu armazém. Os quóruns e as Sociedades de Socorro devem ser uma segurança e um refúgio nestes dias difíceis,e apoiar e fortalecer a identidade, o papel e as responsabilidades dos filhos e das filhas do Pai Celestial. Fomos “chamadas pela voz do profeta de Deus para isso”,80, e ao fazê-lo, “não se poderá impedir que os anjos [nos] façam companhia”.81 Presto testemunho disso em nome de Jesus Cristo. Amém.

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Por que estamos organizados em quóruns e Sociedades de Socorro, En el Púlpito, accessed 28 de março de 2024 https://www.churchhistorianspress.org/at-the-pulpit/part-4/chapter-51