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Dissertação sobre fé

Associação das Moças de Spanish Fork

Spanish Fork, Território de Utah

22 de setembro de 2014


Em 20 de setembro de 1879, Mary Tyndale Baxter Ferguson (1826–1909) discursou sobre fé e trabalho para as moças de Spanish Fork, no Território de Utah, cerca de 80 quilômetros ao sul de Salt Lake City. Suas experiências revelaram a fé e o compromisso que assumira perante Deus a despeito dos desafios de sua vida. Ela nasceu em Glasgow, Escócia, e perdeu a mãe quando ainda muito pequena e1 foi criada por uma babá contratada, Agnes Reid, por quem desenvolveu uma profunda afinidade. Foi somente depois de muito tempo que descobriu que fora adotada. Até os 16 anos, Mary frequentou a escola e depois foi trabalhar em uma fábrica de seda e em uma fábrica de tear a vapor.2 A religiosidade fez parte de sua criação, pois Agnes Reid “a ensinou a ler a Bíblia, a temer a Deus e a viver uma vida boa e virtuosa” e, por isso, ela participou ativamente em diferentes grupos religiosos.3 Depois de ser apresentada aos missionários mórmons por sua irmã, no outono de 1845, Mary Ferguson ficou apreensiva e determinada a investigar a Bíblia para descobrir a autenticidade de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.4 Quanto mais estudava, mais convencida ficava. Ela entrou nas águas do batismo em outubro de 1846, registrando que “todos os meus amigos me abandonaram e falam mal de mim por causa do evangelho”.5

Mary Ferguson conheceu John Baxter na conferência da Igreja na Escócia e eles se casaram em 1849. Por um tempo, moraram com a família de John. Mary passou a cuidar dos cunhados, da sogra doente e do marido, pois John possuía uma saúde fraca, devido aos muitos anos em que trabalhara nas minas de carvão. Com a esperança de uma vida melhor, a família imigrou para a América, em 1851. Por dois anos, eles permaneceram em St. Louis, trabalhando para conseguir os recursos que lhes garantiriam cruzar as planícies até Utah. Em setembro de 1853, pouco depois de chegarem ao Vale do Lago Salgado, John ficou desanimado com o clima que lhe era estranho e com os recursos escassos de Utah. Partiu, então, para a Califórnia, deixando Mary Ferguson sozinha e com dois filhos para sustentar.6 Um ano depois, John Baxter voltou para Utah e a família foi morar em Spanish Fork e Goshem, no Condado de Utah, onde o casal teve outros cinco filhos. John Baxter faleceu em 1869, depois de muitos anos doente.7

No obituário de Mary Ferguson, lemos que “ela lutou arduamente para criar uma família muito grande com crianças pequenas e cuidar deles, mas o Senhor ouviu seus lamentos e a abençoou, dando-lhe a capacidade de carregar um fardo tão pesado”.8 Em 1874, cinco anos depois do falecimento do marido, Mary se casou com Andrew Ferguson, um antigo amigo da Escócia que a batizou e oficiou no seu primeiro casamento com Baxter, em 1849.9

Ao mesmo tempo em que trabalhava como enfermeira e parteira para sustentar a família, Mary Ferguson servia na Igreja.10 No ano em que o primeiro marido faleceu, ela estava servindo como tesoureira da Sociedade de Socorro de Goshen. Em 1873, Mary recebeu a designação de servir como professora visitante, uma responsabilidade dada somente para um pequeno grupo de mulheres em cada ala, naquela época. As atas da Sociedade de Socorro de Goshen registram suas doações de batata, carne e algodão; suas orações de abertura e encerramento e suas mensagens em diversas ocasiões. Em 6 de julho de 1871, ela disse: “É muito bom ser obediente em todas as coisas relativas a Cristo, pois Ele era manso e humilde e amava abençoar os doentes e os aflitos. Espero que minhas ações sejam condizentes com as da vida de um santo”.11 Depois de se casar novamente e se mudar com a família para Spanish Fork, Mary Ferguson serviu por muitos anos como presidente da Sociedade de Socorro. Era comum, naquela época, que as mulheres participassem de diversas organizações. A Sociedade de Socorro de Spanish Fork e a Associação de Melhoramentos Mútuos das Moças (AMM das Moças) trabalhavam em conjunto e não era incomum que Mary visitasse e falasse na reunião da AMM das Moças.12

Sendo a fé o primeiro princípio do evangelho, é necessário indagar: o que é fé? As escrituras nos dizem que “fé é a esperança nas coisas que não se veem”;13 por exemplo, se eu lhes disser que, se forem a um determinado lugar, vocês encontrarão uma pepita de ouro ou uma pérola de grande beleza e se, em seguida, vocês vão e a encontram, sua fé foi manifestada por suas obras.14 Isso é o que acontece quando obedecemos ao evangelho, certas bênçãos nos são dadas, mas, se dissermos que acreditamos e não obedecemos, então nossa fé é vã. É como o corpo sem o espírito; está morto. Foi essa fé viva, minhas jovens irmãs, que fez com que seus pais e suas mães obedecessem ao evangelho em suas terras e lares distantes. Por terem fé, deixaram sua casa, seus familiares e tudo o que lhes era precioso e, entre o desprezo e a perseguição, embarcaram sobre o imenso oceano, sendo lançados sobre ondas furiosas, por semanas e meses, longe da vista da terra, doentes e cansados, mas ainda confiando no braço de Jeová para levá-los com segurança a um refúgio de descanso. Muitos deles nunca tinham conhecido as provações e as dificuldades da vida, deixando para trás amigos chorosos e saudosos, que não tinham fé e não entendiam os propósitos de Deus.15 Por meio da fé, eles cruzaram as planícies com a lenta e cansativa viagem de bois, mas ainda mais cansativa com carrinhos de mão. Pensem nisso, minhas jovens irmãs, seus pais e suas mães viajaram por mais de 1.600 quilômetros, puxando um carrinho de mão, carregando alimentos e roupas de cama, utensílios de cozinha, roupas, etc., muitos deles com crianças pequenas; atravessaram rios, com água até a cintura e caminharam por quilômetros em terreno difícil; ainda assim, à noite em volta da fogueira, suas canções de louvor subiam a Deus, pois os princípios da fé tinham sido plantados em seu coração.16 Eles tinham a certeza das coisas que não se veem. Pela fé, chegaram a esses vales, que não eram os ricos vales férteis que vemos agora. Pela fé, subjugaram o solo estéril e árido e, por meio das bênçãos de Deus, conseguiram fazer o deserto florescer como a rosa17 Nas gerações futuras, ainda poderão falar de nós o que foi dito de Moisés: cultivaram o solo e produziram abundantemente. Mas foram muitos anos de trabalho árduo, o que é uma indicação da determinação daqueles que o fizeram.

Não tenho muito tempo para lhes contar como nossa fé foi provada por causa de grilos, gafanhotos, secas, inundações e também pela perseguição de nossos inimigos. Mas, no geral, somos pessoas extremamente abençoadas e felizes e, por meio da fé, pretendemos crescer e aumentar e nos espalhar para outras terras até que, como Abraão de antigamente, nosso crescimento não tenha fim.18

Agora, minhas queridas jovens amigas, não pensem que porque fizemos tanto não há nada para vocês fazerem. Vocês precisam se espalhar para outros países. Não devem pensar que o território de Utah vai conter os filhos de Sião. Vocês terão que estabelecer novas colônias.

Será exigido de nossos jovens, à medida que forem chamados, deixar pai e mãe, pois as estacas de Sião devem ser fortalecidas e suas “fronteiras alargadas”.19 “Dê-nos um lugar onde possamos habitar, clamam os filhos de Sião.”20 As escrituras estão se cumprindo diante de nossos olhos. Os iníquos estão com medo de que lhes tiremos o nome e a nação, mas as profecias precisam ser cumpridas embora a terra e o inferno se atrevam a se opor.

Portanto, lutem com firmeza pela fé transmitida a seus pais nestes últimos dias para que, pela fé, vocês sejam capacitadas a promover os propósitos de Jeová, e que a influência aceleradora do Espírito de Deus repouse sobre os filhos de Sião, para que seja como um fogo vivo dentro deles, produzindo muitos frutos para a retidão. Então, que vocês possam dizer como disse o poeta:

Os perigos, as provações e as aflições,

Partilhamos com os nobres do passado,

Junto deles no banquete da verdade,

Tendo a batalha contra o erro terminado.21

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Dissertação sobre fé, En el Púlpito, accessed 18 de abril de 2024 https://www.churchhistorianspress.org/at-the-pulpit/part-1/chapter-16