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Nosso Pai Celestial tem uma missão para nós

A gravação do discurso original está disponível em churchhistorianspress.org (cortesia da Biblioteca de História da Igreja).







Serão

Salt Lake City, Utah

28 de abril de 2012


Missionárias com duas mulheres

Judy Brummer como missionária em Queenstown, África do Sul. Por volta de 1980. Natural da África do Sul, a irmã Brummer (na foto, a segunda da direita para a esquerda) foi a primeira missionária santo dos últimos dias a falar o idioma xhosa fluentemente. (Foto de arquivo familiar. Cortesia de Judy Brummer.)

Judy Bester Brummer (nascida em 1956) cresceu em uma fazenda na África do Sul, onde seu pai, Johan Bester, criava ovelhas da raça Merino, para produção de lã, além de cabras Angorá, para produção de tecido mohair, e gado para competir em feiras de pecuária.1 Sua mãe, Gwenna Rundell Stocks Bester, administrava o lar e ensinava os filhos em casa, até os dez anos de idade, quando a lei exigia que frequentassem a escola. A família tinha um relacionamento duradouro com seus empregados, que eram membros da tribo xhosa.2 Quando Gwenna chegou ao rancho recém-casada, Maggie (Notholi Dikane) era a cozinheira; muitos anos depois, quando Gwenna, já idosa, foi morar em um asilo, Maggie ainda era a cozinheira. Jane (Nowinsi Xhashimba) era a faxineira, e Lizzie (Nowinele Skeyi) cuidava da lavanderia.3 Sindie (Sintombi Skeyi), a filha de Lizzie, e Tombe (Ntombisi Xhashimba), a filha de Jane, eram as melhores amigas da irmã Brummer. Das três, apenas a irmã Brummer falava inglês, então elas sempre se comunicavam em xhosa.4

Os primeiros missionários santos dos últimos dias designados para servir no continente africano chegaram na África do Sul em 1853, mas o trabalho foi feito esporadicamente até a chegada permanente de missionários em 1944.5 A primeira estaca sul-africana, em Joanesburgo, foi organizada em 1970. Depois, já próximo do período em que a irmã Brummer serviu como missionária em Queenstown, foram organizadas outras estacas em Durban, em 1981, e na Cidade do Cabo, em 1984.6 O crescimento no número de membros era lento, em parte porque muitos conversos do século 19 haviam imigrado para áreas com maior concentração de santos dos últimos dias.7 Também houve longos períodos em que o trabalho missionário teve de ser interrompido devido a guerras no país. Além disso, antes de 1978, a Igreja não permitia que homens de ascendência africana negra fossem ordenados ao sacerdócio, e que homens e mulheres negros adorassem no templo; como resultado, os membros da Igreja na África do Sul eram majoritariamente brancos, e a Igreja estava estabelecida em regiões onde se falava inglês e africâner. Tendo servido de 1980 a 1982— pouco após o fim da restrição ao sacerdócio e ao templo — a irmã Brummer fez parte da primeira leva de missionários a fazer proselitismo principalmente nos vilarejos e nas regiões tribais dos negros sul-africanos. Sua fluência em xhosa foi fundamental para o trabalho missionário. Após a missão, ela ajudou a traduzir grande parte do Livro de Mórmon para o idioma xhosa.8

A irmã Brummer também se casou com o sul-africano André Brummer, que havia sido seu líder de distrito nos últimos meses da missão.9 Ao criar seus filhos, eles se preocuparam com as altas taxas de criminalidade em seu país, pois, por exemplo, tinham que destrancar quatro ou cinco portões para levar as crianças para andar de bicicleta. Assim, eles se mudaram para Utah em 1993, para que André estudasse relações internacionais na Universidade Brigham Young, e permaneceram no país após ele conseguir um emprego em uma empresa de genealogia online.10

A irmã Brummer calcula que desde 2001 já apresentou centenas de variações do discurso a seguir, tendo falado duas a três vezes por mês.11 Ela discursa com mais frequência em Utah, mas já viajou para fazer essa apresentação na Califórnia, no Texas, no Arizona e em Oklahoma. 12 Ela faz esses sacrifícios pois, com base nos comentários de quem a ouve, “o testemunho das pessoas é fortalecido”.13 O texto apresentado aqui é um trecho de uma das versões do discurso da irmã Brummer, feito em uma capela em Salt Lake City; foi gravado por Dan e Edith Baker, missionários da Missão de História da Família e da Igreja, na sede da Igreja.

Sinto-me feliz e honrada por estar aqui nesta manhã, e agradeço por vocês terem vindo. Sou muito grata.

Vou falar sobre minha infância na África do Sul, e quero que façam a si mesmos a seguinte pergunta: o Pai Celestial prepara um caminho com antecedência, ou tudo não passa de coincidência?

Cresci em um rancho na região de Karoo, na África do Sul.14 Nasci em uma família metodista. Amo minha família metodista; eles trabalham duro, são bondosos, honestos, descentes, fazendeiros e caipiras. Sou muito grata pelo legado que recebi por ter nascido naquela família.

Minha mãe frequentou a mais cara escola particular do continente africano; ela estudou na Rhodes University, onde concluiu duas graduações.15 Ela faleceu há dois anos, aos 85 anos.16 Naquela época, era muito raro que as mulheres sul-africanas, mesmo as brancas, recebessem toda essa educação, mas como ela não tinha irmãos, recebeu essa oportunidade. Minha mãe tinha bacharelado em matemática. Ela era muito inteligente e, na minha opinião, acho que não é necessário ter uma formação em matemática para ler a Bíblia e perceber que um, mais um, mais um são três indivíduos distintos.

Minha mãe era metodista, mas me ensinava a doutrina mórmon. Outra coisa pela qual sou eternamente grata é a minha mãe, e espero que todas as mães presentes aqui hoje tentem fazer isso por seus filhos, ou pelos filhos que ainda virão. Minha mãe nos ensinava sobre o poder de Deus. Ela nos ensinava que o Deus Todo-poderoso não é chamado de “Todo-poderoso” por acaso. Ele pode fazer qualquer coisa, em qualquer lugar, a qualquer momento. Como sou grata por ter crescido em um lar onde se acreditava que o Pai Celestial podia me ajudar, intervir em minha vida e responder minhas orações. É muito mais provável que você peça Seu auxílio se você realmente acreditar que Ele pode fazer qualquer coisa, em qualquer lugar, a qualquer momento.

Quanto mais o tempo passa, mais acredito que minha mãe tinha muito em comum com Morôni, que no último capítulo do Livro de Mórmon usou a palavra “poder” nada menos que onze vezes.17 E precisamos lembrar que Morôni não estava digitando em um computador; ele estava entalhando placas de ouro quando escreveu em Morôni 10: “Eu vos exorto a não negardes o poder de Deus”. E depois ele repetiu: “Se [...] não negardes o poder de Deus”. Acho que Morôni queria que nós, nestes últimos dias, reconhecêssemos, lembrássemos e acreditássemos no poder do Todo-poderoso.18 Sou extremamente grata a minha mãe por ter me ensinado essas duas coisas.

Se você vivesse na região do Karoo, onde eu cresci, aos 6 anos de idade você era enviado para um internato na cidade, apenas para brancos, por causa do apartheid.19 Os pais não tinham permissão para ensinar os filhos em casa, se vivessem no interior, a menos que tivessem formação educacional. Era como no filme Austrália — vivíamos no interior, em uma residência de brancos.20 Se você fosse para a frente da casa e olhasse ao redor, não veria sinal de qualquer outra habitação. Meu pai possuía um rancho de 10 mil acres, então eu cresci achando que ele era o dono do mundo.

A África do Sul possui 11 idiomas oficiais e, se você fosse branco de ascendência britânica, aprenderia o inglês, como foi o meu caso; ou então aprenderia o africâner, como foi o caso do meu marido. Basicamente, é holandês misturado com um pouco de alemão e francês. Os povos africanos negros pertencem a nove diferentes tribos, cada uma com sua própria língua. Por exemplo, os zulus falam isiZulu, os sotos falam isiSoto, os tswanas falam isiTswana e os xhosa falam isiXhosa. As famílias que viviam em nosso rancho falavam isiXhosa. Eles eram da tribo xhosa. Creio que vocês já ouviram falar de Nelson Mandela ou de Thabo Mbeki; eles eram xhosa, pertenciam a essa tribo e falavam isiXhosa.21

Todos os nossos empregados eram dessa mesma tribo, então cresci aprendendo a falar dois idiomas. Não me recordo de ter aprendido a falar xhosa. Só lembro de pensar: “Bem, quando converso com uma pessoa negra, tenho que estalar a língua, e quando converso com uma pessoa branca, tenho que falar inglês”. Na infância, eu não tinha noção de que estava aprendendo dois idiomas ao mesmo tempo, então ambas são minha “língua materna”, pois fui criada por uma mãe branca e três mães negras.

Agora vou falar um pouco sobre quando fui enviada para o internato. Como minha mãe tinha duas graduações, ela tinha permissão, de acordo com as estritas diretrizes governamentais, para nos ensinar em casa por quatro anos. Assim, em vez de ser enviada ao internato para crianças brancas aos 6 anos, só fui para lá aos 10 anos de idade. Com essa idade, após ter passado 10 anos falando um idioma, ele já estava bem gravado em meu cérebro, de modo que não tinha como esquecê-lo. Algumas crianças brancas esqueciam as línguas africanas quando eram enviadas para a escola. Mas, no meu caso, por minha mãe ter graduação — que era algo muito incomum — pude ficar no rancho até os 10 anos.

Já no internato, durante o Ensino Médio, li um livro chamado A Cruz e o Punhal, escrito por um ministro, e pensei: “Isso é algo nobre de se fazer”.22 David Wilkerson, o autor, fala sobre como usou o evangelho para ajudar pessoas oprimidas após a Segunda Guerra Mundial. E eu desejei fazer a mesma coisa. Assim, quando terminei o Ensino Médio e saí do internato, fui para a Rhodes University e me matriculei em algumas disciplinas de ciências sociais. Eu pensava em fazer serviço social ou assistência social.

Um dia, uma de minhas amigas desde a época do internato virou para mim e disse: “Judy, você fala xhosa fluentemente. Por que não se matricula na turma de xhosa?”, afinal eu precisava fazer mais uma disciplina. Quando se tem 18 anos, você sempre procura a saída mais fácil. Ela me disse: “Você vai tirar de letra”. Então, quase sem querer, me matriculei na classe de xhosa. Eu falava com fluência, desde que me entendia por gente, mas nunca tinha lido ou escrito nada nessa língua. Caí na turma de um professor branco, que já tinha passado muito tempo tentando aprender aquele idioma cheio de estalos. Xhosa é o idioma mais difícil do mundo, pois você produz os sons não só ao expirar, mas também ao inspirar. Quando se fala inglês, você só expira, e todos os sons são produzidos se expelindo o ar dos pulmões, mas xhosa é diferente.

Em meados de 1978, mais ou menos na mesma época que nosso querido profeta, Spencer W. Kimball, recebeu a revelação de que todos os homens poderiam receber o sacerdócio — sei que alguns de vocês podem lembrar exatamente o que estavam fazendo naquele dia23 — naquela ocasião, eu ainda era metodista e vivia na Cidade do Cabo, a cidade mais bela. A propósito, se você perguntar a qualquer piloto de voos internacionais, eles dirão que as duas mais belas cidades são Rio de Janeiro e a Cidade do Cabo. É por causa das montanhas e do oceano. Em 1978, eu vivia na Cidade do Cabo com uma grande amiga minha da época do internato, Vivienne. Na época, eu tinha um emprego que não tinha nada da nobreza do serviço social. Era o emprego mais incrível, bem pago e fácil em toda a Cidade do Cabo. Uma amiga minha que estudava publicidade viu o anúncio da vaga em um jornal e me disse: “Judy, essa vaga é a sua cara. Manda o currículo, pois o salário é muito bom”. Eu respondi que já tinha um emprego e que a vaga não tinha me interessado. Ainda assim, ela mandou meu currículo para lá e eu acabei sendo contratada para aquela vaga pouco exigente e extremamente bem paga na Christian Dior cosméticos. Eu trocava de carro todo ano e viajava para toda a região sudoeste da África do Sul como representante da Christian Dior, e visitava de 5 a 8 lojas por dia. Eu terminava meu trabalho em uma ou duas horas e depois ia para a praia curtir o resto do dia.

Minha colega de quarto, Vivienne, disse: “Você é a pessoa mais sortuda da Terra. Você tem a família perfeita, o namorado perfeito e, agora, o emprego perfeito”. Aquilo me fez sentir culpada. Eu já me sentia culpada por ter nascido em um país onde havia tantas pessoas desprivilegiadas e eu era tão abençoada. Então decidimos ir à igreja para agradecer as bênçãos que tínhamos. Fomos em quatro moças: minha amiga, Vivienne, eu e duas amigas que moravam no andar de cima. Decidimos ir à igreja para agradecer o emprego que eu tinha. Afinal, minhas amigas também tinham suas mordomias. Elas ficavam com as amostras de perfumes quase cheias que eu tinha que levar para casa quando trocava o mostruário nas lojas, então estavam sempre perfumadas com Christian Dior.

Assim, em meados de 1978, começamos a visitar diferentes igrejas para agradecer por meu emprego. E a cada domingo olhávamos umas para as outras e dizíamos: “Aqui eu não volto nunca mais”. Na semana seguinte, experimentávamos uma igreja diferente, mas no fim dizíamos mais uma vez: “Aqui eu não volto nunca mais”. Com o tempo, desistimos. Nós quatro nos sentamos e fizemos um pacto de que não frequentaríamos nenhuma daquelas igrejas de novo. Era a coisa mais chata a se fazer em um domingo! Então decidimos que iríamos ler a Bíblia e ser “pessoas boas”, coisa que não éramos, e no fim íamos para a praia Clifton aos domingos. Desistimos completamente de nossa busca.

Mas, então, adivinha quem bateu à nossa porta? Sempre digo que o Pai Celestial sabia que não seria uma boa ideia mandar élderes bater naquela porta onde viviam quatro doidas. Lá estavam duas sísteres sul-africanas. Se você já criou, apoiou ou foi um missionário, quero lhe agradecer do fundo do meu coração, pois até hoje posso lembrar claramente daquele dia como se fosse hoje. Minha amiga, Vivienne, e eu estávamos jogando hóquei de campo no quintal. O nosso treinador estava realmente querendo que ficássemos em forma. Estávamos todas suadas e tínhamos acabado de voltar para o apartamento, em Rondebosch, Cidade do Cabo.

Foi em janeiro de 1979. Janeiro é época de melancia, o meio do verão no hemisfério sul, e lá estávamos nós na cozinha, matando a sede com melancias, quando ouvimos as batidas na porta. Fui atender e vi aquelas duas sísteres. Eu tinha 22 anos, e a Síster Dicks tinha 21 — ela se chamava Ronell Dicks, hoje Ronell Wrench — e tinha também a Síster Louise Bell. Ela era viúva, na casa dos 40 anos. A Síster Dicks tinha acabado de chegar na missão e estava muito nervosa. Em um só fôlego ela disparou: “Boa tarde, somos missionárias da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias — mais conhecidos como mórmons — gostaria de saber mais a respeito?” Olhei para a plaqueta dela e vi o nome do Salvador — que naquela época ainda nem era destacado. Lembro que me perguntei: “Como deixamos passar essa igreja?” Então achei que seria uma boa ideia perguntar a Vivienne se ela gostaria de ouvir também, pois algumas semanas antes eu havia permitido que um sem-teto entrasse em nosso apartamento e acabamos tendo dificuldades para que ele saísse. Minha amiga tinha ficado chateada comigo e disse: “Não traga mais nenhum doido para esse apartamento!” Então eu disse às sísteres: “Deixa eu perguntar para a Viv”. Dei alguns passos para dentro de casa e perguntei: “Vivienne, gostaria de ouvir mais sobre a ‘igreja Mórbida”? Ela estava com a boca cheia de melancia e começou a rir histericamente, cuspindo tudo na mesa da cozinha e segurando a barriga com as mãos. Vocês sabem como é rir de coisas que não são tão engraçadas. Eu comecei a rir também e nós duas ficamos lá gargalhando histericamente.

Aí um pensamento veio à minha mente: “Não ria dessas garotas; você não teria a coragem de fazer o que elas estão fazendo. Deixe-as entrar”. Então voltei à porta e disse: “Entrem, por favor”. Nós nos sentamos, chamamos as duas amigas que moravam no andar de cima, e as missionárias ensinaram a primeira lição. Lembro-me claramente de como ensinaram sobre a Primeira Visão daquele jovem fazendeiro — e eu amo fazendeiros.24 São pessoas simples, com quem me identifico. Os fazendeiros são pessoas especiais que eu amo muito.

Quando disseram que ele tinha 14 anos, vivia em uma fazenda no norte de Nova York e não sabia a qual igreja se filiar, senti uma certa familiaridade. Ele então foi a um bosque e perguntou a Deus, o Pai Eterno, a qual igreja deveria se unir. Os céus se abriram e o Deus Todo-poderoso, Nosso Pai, junto com Jesus, o Filho, dois seres distintos, apareceram ao jovem profeta, Joseph Smith; eles vieram pessoalmente restaurar a Sua Igreja à Terra nestes últimos dias. Lembro-me de ter pensado: “Puxa”.

A Primeira Visão aconteceu em 1820. A primeira coisa que me veio à cabeça foi: “Esse é o evento mais importante de todo o cristianismo desde a primeira Páscoa da Ressurreição de nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo. Como é que essa notícia levou 160 anos para atravessar o Atlântico?” Não dava para acreditar que eu nunca tinha ouvido falar da Primeira Visão antes. Nós nos considerávamos educadas e esclarecidas, mas, mesmo assim, nunca tínhamos ouvido falar do evento mais significativo, do evento mais importante do mundo.

Também pensei: “Qual é o problema com a BBC e a CNN?” Meu pai era fanático por notícias, tanto que assinava todas as revistas possíveis. Tínhamos todos os jornais, e ele ouvia notícias no rádio umas cinco vezes por dia, mas, mesmo assim, nunca tínhamos ouvido falar daquilo — me senti traída. Então concluí que era melhor contar à minha família a respeito da Restauração. Liguei para eles com muito entusiasmo. Falei sobre o que as missionárias tinham me ensinado. Depois de cada lição, eu ligava para meus familiares e amigos.

Fiquei estarrecida com a reação deles. Eles me enviaram uma avalanche de materiais antimórmon. Até mandaram três ministros para o nosso apartamento, para me dizer que eu não deveria me filiar àquela seita americana maligna que tinha um falso profeta. Felizmente, eu era bem atrevida. Quando os ministros chegaram, com suas túnicas pretas e colarinhos brancos, e disseram que eu não deveria me filiar à igreja mórmon, perguntei: “Por que não?” Aí um dos ministros respondeu: “Porque eles não são cristãos”. Então defendi os mórmons: “Reverendo, me perdoe, mas como você pode dizer que os mórmons não são cristãos? O nome do Salvador aparece na plaqueta que elas usam, e eu fui à igreja deles algumas vezes. O nome de Jesus também está na fachada, em letras garrafais”. Perguntei de novo: “Como você pode dizer que eles não são cristãos?” A resposta dele foi: “Porque eles não pertencem ao CMI”. Então perguntei: “O que é CMI?” E ele disse: “É o Conselho Mundial de Igrejas”.25

Felizmente, eu tinha uma bala na agulha. Falei: “Perdão, Reverendo. Eu já li a Bíblia de capa a capa. Poderia me mostrar o capítulo e o versículo em que Jesus diz que é preciso pertencer ao CMI? Há pouco li o primeiro capítulo de Tiago, onde ele nos ensina a reconhecer a religião pura.26 Creio que os mórmons são os melhores cristãos que já conheci. Frequentei a Sociedade de Socorro; elas visitam os doentes e levam alimento para eles, cuidam dos filhos de alguém que tenha um recém-nascido, cuidam das viúvas e também dos pobres. A única coisa ruim que eles fazem é jejuar uma vez por mês, mas dão o dinheiro aos pobres”. E acrescentei: “Em Tiago 1:22 diz: ‘Sede cumpridores da palavra, e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos’, e no versículo 26 está escrito: ‘Se alguém entre vós supõe ser religioso, e não refreia a sua língua, mas engana o seu coração, a religião desse é vã’. E o versículo 27 diz: ‘A religião pura e imaculada para com Deus, o Pai, é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações, e guardar-se imaculado do mundo’”.

Eu disse ao ministro que os mórmons eram as pessoas mais imaculadas que eu já conhecera, e que eles viviam sua religião.

Fui batizada em abril de 1979. Decidi ser batizada pois havia orado com sinceridade de coração, com real intenção de mudar meus hábitos mundanos. Pedi a Deus que me dissesse se o Livro de Mórmon era a Sua palavra, e o Espírito Santo prestou testemunho a mim, ao meu coração, com tal poder que eu não poderia confundir com uma mera emoção. Soube, por meio daquela oração, que o Livro de Mórmon era a palavra de Deus. Ainda lembro daquele sentimento. Em geral, minha memória é péssima, mas lembro de quando me ajoelhei, tendo as missionárias ao meu lado, e perguntei a Deus, sabendo que Ele era capaz de me dizer se o Livro de Mórmon era a Sua palavra.

Lembro do que senti em meu coração. Foi um ardor no coração. Não foi um mero sentimento — foi algo muito poderoso — e a partir daquela oração, soube que o Livro de Mórmon era a palavra de Deus, e não havia ministro algum que pudesse me dizer que esta não é a igreja que o próprio Jesus restaurou à Terra por meio do profeta Joseph Smith. Mas, mesmo antes, eu já havia reconhecido a verdade quando as missionárias bateram à minha porta. Senti o Espírito. Sou muito grata por elas terem sido dignas de ter o Espírito Santo com elas quando ensinaram a mim e as minhas amigas, mesmo que elas não tenham sido batizadas.

Um ano depois, decidi servir missão. Foi aí que minha família achou que eu tinha perdido minha sanidade. Minha mãe me ligou. (Eles ainda viviam na fazenda, e o ministro metodista ainda dizia para eles que os mórmons não são cristãos.) Disse a meus pais: “Acredito de todo o coração que essa é a igreja que Jesus trouxe novamente à Terra, em preparação para Sua Segunda Vinda. Creio nisso de todo o coração”. Eles responderam: “Não largue seu emprego; você nunca vai encontrar outro que pague tão bem quanto esse, e nós não vamos sustentá-la durante ou depois dessa missão”. Mais uma vez, fui atrevida e disse: “Sei que essa é a Igreja do Senhor. Não se preocupem comigo; Ele vai tomar conta de mim durante esses 18 meses, se eu tiver fé para trilhar esse caminho. E Ele vai me sustentar quando esse caminho chegar ao fim”.

Em 1980, disse ao presidente do ramo que queria servir missão, e duas semanas depois eu já era missionária.27 Recebi uma ligação urgente de Salt Lake City, pois alguém ficou sabendo que eu falava aquela língua cheia de estalos. Havia um homem africano, que se autodenominava Bispo Kowa. Alguém tinha dado a ele uns livros da Igreja, e ele decidiu que não iria esperar 160 anos até os missionários virem ensiná-lo. Então, ele pegou uma telha de zinco, escreveu “A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias” e pendurou ao lado da porta de sua casa de taipa, em Steynsburg, e saiu pregando o evangelho.28 Ele organizou congregações nas regiões de Ciskei e Transkei, em cidades como East London, Cemazili, Sada, Illinge e outras. Ele tinha pregado o evangelho em todos esses lugares.29

Quem me contou isso foi um dos APs [assistentes do presidente da missão] que estava servindo naquela época. Ele comentou que o Bispo Kowa havia decidido fazer o registro da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias na África do Sul, mas aí descobriu que o registro já havia sido feito pela sede da Igreja em Salt Lake City. Então ele escreveu uma carta para o profeta, o presidente Kimball, e perguntou se gostaria de unir as duas igrejas. A carta foi escrita em africâner; provavelmente ele pensou que o presidente Kimball entendesse africâner. A carta foi traduzida e enviada para lá e para cá.

Mais ou menos em 1979, dois missionários sul-africanos foram enviados, um deles era Peter Boyton.30 Ele foi enviado para falar com o Bispo Kowa, que tinha uma vasta congregação e tirava o seu sustento dos dízimos pagos pelas pessoas. O Bispo Kowa não falava inglês, e os dois élderes não falavam aquela língua cheia de estalos. Como não conseguiram se comunicar, os missionários foram transferidos. Foi aí que o presidente da missão ficou sabendo que eu falava aquela língua. Em duas semanas eu estava no campo missionário, conversando com o Bispo Kowa. Isso foi em 1980.

Por meio do Bispo Kowa, o Senhor havia preparado pessoas da tribo xhosa, e quando chegamos lá, havia congregações para ensinarmos. Eu servia de intérprete para os missionários americanos e sul-africanos. Passei 18 meses em Queenstown, que fica a apenas duas horas de onde nasci. Viajamos por toda a região de Transkei e de Ciskei, ensinando aquelas pessoas.31 O Bispo Kowa ia conosco e dizia: “Ouçam o que essas pessoas têm a dizer”. Tivemos um sucesso estrondoso, pois aquelas pessoas tinham sido preparadas pelo Senhor.

Batizávamos 30, 40, 50 pessoas de uma vez. Lembro-me de uma ocasião em que tínhamos 54 pessoas para ser batizadas, mas além de minha companheira e eu, só havia um casal missionário, ou seja, só tínhamos um portador do sacerdócio.32 Ligamos para East London e dissemos: “Mandem alguns élderes para cá, pois não é fácil para um idoso batizar 50 pessoas”.33 O presidente da missão, Lowell D. Wood, me disse: “Me desculpe, mas não posso transferi-la, pois você é a única que fala xhosa”. Por isso passei todos os 18 meses da missão em Queenstown. Com o tempo, mandaram mais missionários para lá, até que ficamos em 12, e foi uma experiência maravilhosa. Amei minha missão. Pude aprender muito, pois eu tinha apenas um ano como membro da Igreja, então aprendi repetidamente o básico. Sou grata por ter vendido tudo o que tinha para servir missão.

A Igreja faz tudo em ordem. Quando estava na missão, me pediram que traduzisse muitas coisas, e acho que a primeira delas foi o nome da Igreja, que é Ibandla lika Yesu Krestu Yaba Ngcwele beMihla yokuGqibela. Já assistiram ao filme Os deuses devem estar loucos? É uma língua parecida com aquela.34 Para ensinar as pessoas e batizá-las, tínhamos a Bíblia em xhosa, em uma tradução bem ruim, mas era o que tínhamos. Porém, não tínhamos o Livro de Mórmon em xhosa. Assim, quando estávamos ensinando o evangelho e os missionários liam algo do Livro de Mórmon, eu traduzia de cabeça na hora. Coisas como as orações sacramentais e a oração batismal, eu escrevi em um papel para que pudessem ser sempre repetidas com exatidão.

Sinto-me honrada e privilegiada por ter visto aquelas pessoas que eu amo abraçarem o evangelho. Cresci em meio ao povo xhosa e os amo sem reservas. São um povo muito humilde e espiritual. Quando um daqueles rapazinhos recebia o sacerdócio aos 12 anos de idade, eu dizia: “Você sabia que sua autoridade é maior do que a da maioria dos ministros famosos e conhecidos por aí?” Eu ficava maravilhada de ver aqueles rapazinhos de pés descalços e portando o sacerdócio. Não consigo expressar a alegria e a emoção de ver aquelas pessoas serem batizadas, e como o evangelho as ajudava a sair da terrível situação em que muitas se encontravam.

Uma de minhas escrituras favoritas é João 8:32. Lá diz: “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. A verdade, como ensinada pelos missionários da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, é a melhor verdade que se pode ter. É a melhor verdade que você pode ter. Lembro-me de dizer àquele povo africano: “Mesmo que se sintam oprimidos pelo apartheid, agora vocês têm o sacerdócio. Agora vocês têm a maior liberdade da Terra”.

Quem conhece a África, não só a África do Sul, sabe que há muitos problemas lá, como feitiçaria, adoração de ancestrais, AIDS e outras coisas que acabam com o continente. O evangelho ajuda as pessoas; ele as tira daquele estado. Fico emocionada quando recebo cartas de pessoas que batizamos há mais de 30 anos. Os filhos deles agora estão servindo missão e indo ao templo. É uma alegria indescritível. Algumas semanas atrás fiquei sabendo que as missões sul-africanas têm a maior taxa de retenção quanto ao número de pessoas que permanecem na Igreja.35

Quando estava na missão, muitas vezes servi de intérprete quando alguém tinha que confessar um pecado, pois os líderes da Igreja eram todos brancos. As pessoas me contavam seus pecados, e eu traduzia para o bispo ou presidente de estaca. Eu pensava comigo mesma: “Alguns desses pecados são muito malignos e assustadores!” Um dia comentei com o presidente da missão: “Sempre fico me perguntando como posso amenizar as coisas que eles falam”, pois os líderes americanos não tinham familiaridade com feitiçaria. Alguém me dizia: “Lancei uma maldição sobre tal pessoa”, e eu pensava: “Puxa vida, como vou traduzir isso?” Havia pessoas que tinham cometido assassinato. Meu presidente de missão respondeu: “Se você não traduzir exatamente o que eles falarem, se amenizar as coisas, os pecados deles recairão sobre a sua cabeça”. Eu disse: “Obrigado, mas já tenho meus próprios pecados. Daqui em diante vou traduzir exatamente o que eles disserem”.

Depois da missão, o élder Brummer — bem, agora eu tenho que confessar meus pecados, porque na missão eu era Judy Bester, mas quase no fim da missão conheci o élder Brummer, que foi meu líder de distrito. Resumindo, me casei com meu líder de distrito depois da missão. O élder Brummer me perguntou: “A Igreja precisa comprar sua passagem de avião ou de trem. Para onde você vai?” Eu tinha vendido tudo para servir missão. No começo, minha mala estava cheia de roupas novas, mas após 18 meses, só tinha roupas desgastadas e nem um punhado de moedas. Não tinha ideia para iria, sem contar que eu tinha sido bem atrevida com minha mãe. Eu não tinha como voltar para casa e dar uma de filha pródiga. Então respondi ao élder Brummer: “Eu aviso semana que vem”, aí ele vinha na semana seguinte e perguntava: “Precisamos comprar sua passagem. Para onde você vai?” E eu respondia: “Semana que vem eu aviso. Semana que vem eu aviso”, pois não tinha ideia para onde iria, já que estava sem roupas e sem dinheiro.

Então, umas três semanas antes do fim da missão, recebi um telegrama do chefe do meu antigo chefe, não na Cidade do Cabo, mas no escritório central em Joanesburgo — para os mais jovens, telegrama é tipo um sms em papel. Ainda tenho aquele telegrama guardado. Dizia apenas: “Me ligue urgente, Alec”. Então fui e liguei para o chefe do meu chefe e ele perguntou: “Quando você sai do convento?”36 Acho que os não membros não entendem bem o vocabulário da Igreja. Vocês sabem que nós, mórmons, falamos um idioma diferente, não é? Temos um vocabulário próprio. Respondi: “Tenho mais três semanas na missão. Não sou freira”. E acrescentei: “Termino no dia tal, sexta-feira”. Aí ele disse: “Esteja no escritório de Durban na segunda-feira, às 8 horas”. Ganhei o mesmo emprego de antes, só que na costa leste. E ainda tive um aumento salarial de 50 por cento. Adivinhem para quem eu liguei? Minha mãe. Será que eu fui atrevida? Eu perguntei: “De quem eu disse que é essa Igreja? Não disse que depois dos 18 meses da missão o Senhor cuidaria de mim? Pois é, Ele cuidou”.

Sei, irmãs, que o poder de Deus nunca deve ser negado. Precisamos ter a fé necessária para trilhar o caminho e fazer aquilo que nosso Pai Celestial quer que façamos, quando Ele quiser que façamos, e sei que Ele vai cuidar de nós quando chegarmos ao fim.

Depois da missão, foi-me solicitado que traduzisse alguns materiais da Igreja, dentre eles o folheto Ubungqina Bukamprofethi UJoseph Smith, o testemunho do profeta Joseph Smith.37 Em 1983, o élder Brummer e eu viajamos até o Templo de Salt Lake para nos casar, pois não havia um templo na África do Sul naquela época. Voltamos para a África do Sul e moramos em Joanesburgo por cerca de dez anos. Hoje temos quatro filhos, mas naquela época tínhamos apenas três. O departamento de tradução da Igreja veio até minha casa, em North Johannesburg, e disse: “Agora temos membros o suficiente da tribo xhosa, pessoas boas, honestas e dizimistas, por isso vamos traduzir as escrituras para esse idioma”. Minha primeira reação foi sair correndo e me esconder — e vocês fariam a mesma coisa: traduzir o livro mais correto do mundo, como afirmou Joseph,38 para a língua mais difícil do planeta. Dei todas as desculpas possíveis. Eu disse: “Olha, meu marido é bispo, eu tenho três filhos pequenos pendurados em mim — não posso”. Ainda falei: “Tem um professor negro de xhosa na universidade tal. Tenho certeza de que ele consegue”. Então levaram trechos do Livro de Mórmon para aquele professor, mas ele não conseguia entender o inglês muito bem, por causa dos tus e vós, e acabou escrevendo outra história. Depois que ele traduziu alguns capítulos, eu fui fazer a revisão. Um amigo meu conta que ainda lembra de como fiquei furiosa por causa das coisas que o professor tinha inventado achando que ninguém iria perceber.

Aí falei com Bob Eppel, que era encarregado das traduções da Igreja na África do Sul. Eu disse: “Isso aqui não está nada bom. Não estou me oferecendo para fazer a tradução, mas quero que saiba que ela não ficou boa”.39 Um dia, o pessoal do departamento de tradução veio à minha casa em Joanesburgo. Era um casal de Salt Lake e outro da África do Sul, e junto com eles estava o élder Gene R. Cook, dos Setenta.40 Eles disseram: “Contrate três irmãs da ala para cuidar de seus filhos, trabalhando em turnos a cada dia, enquanto você faz a tradução, e nós vamos pagá-las. Temos um forte sentimento de que é você quem precisa fazer essa tradução”. O élder Cook pôs as mãos sobre minha cabeça e me deu uma benção. Todos naquela sala souberam que era por isso que eu tinha nascido de uma mãe metodista que me ensinava doutrinas mórmons. Era por isso que eu havia recebido permissão para ficar na fazenda por dez anos, em vez de seis, e por isso que eu havia me matriculado quase sem querer em uma classe de xhosa.

Se naquela época eu soubesse que iria me unir à Igreja e ser chamada para traduzir as escrituras, eu teria frequentado aquele curso por mais tempo e teria prestado mais atenção.

Para encerrar, quero falar sobre três coisas que aconteceram comigo então, mas que não haviam ocorrido quando eu traduzia apenas folhetos e outros materiais. Eu já tinha traduzido o manual Princípios do Evangelho,41 alguns materiais da Sociedade de Socorro e das Moças, e alguns hinos. Mas as três coisas que vou falar agora só aconteceram quando eu estava trabalhando no manuscrito da tradução do Livro de Mórmon, dos trechos do Livro de Mórmon, do inglês para o xhosa.

A primeira coisa foi a oposição. Enfrentamos uma oposição enorme. Meus filhos ficaram doentes e um deles quase morreu. E não fomos só o André e eu que enfrentamos oposição, mas também as três babás minhas amigas, que estavam tornando o trabalho possível.

Um dia paramos e nos perguntamos: “O que é que está havendo?” Eram pernas quebradas, carros batidos, crianças doentes, crianças quase morrendo. Foi então que percebemos que o adversário não queria que o Livro de Mórmon fosse traduzido para a língua materna de 8 milhões de pessoas, afinal, quando alguém lê o Livro de Mórmon em sua língua materna, é tocado de maneira mais profunda, e disso eu testifico. Mas não nos deixamos desanimar, arregaçamos as mangas e dissemos: “Vamos lutar e não vamos deixar Satanás vencer”, e então a oposição se dissipou.

A segunda coisa que aconteceu foi que ao ler o Livro de Mórmon em inglês, pude entendê-lo com tamanha clareza que não consigo nem explicar. Era muito claro mesmo. Foi quase como se eu estivesse presenciando tudo. Eu sabia exatamente o que cada palavra significava em inglês. Por isso foi fácil traduzir para o xhosa, algo que não acontece comigo hoje. Eu entendia com tanta clareza que não dá para explicar, até mesmo as partes de Isaías. Eu ficava pensando: “Parece que acendeu uma lâmpada na minha cabeça. Geralmente não sou tão inteligente assim”, e hoje sei que foi um dom de Deus. Eu não estava sozinha; tive ajuda.

Tenho certeza disso pois teve um dia em que acordei de mal humor e briguei com todos da minha família. Depois, fui traduzir naquele estado de espírito, mas não consegui fazer nada. Travei em uma palavra. Tinha comigo a Bíblia em xhosa e estava me esforçando. Consultei vários dicionários, e então pensei comigo mesma: “Não estou gostando disso. De repente ficou tão difícil”, e foi tudo porque eu estava de mau humor e o Espírito Se afastou de mim. O dom da tradução era retirado rapidamente quando eu me comportava mal. Então pensei: “É muito mais fácil me humilhar e me arrepender”, e no dia seguinte tudo voltou ao normal.

A terceira e última coisa que aconteceu tem a ver com os personagens do Livro de Mórmon. Sei que o Livro de Mórmon foi escrito por profetas antigos que viveram neste continente e que eles se importaram conosco a tal ponto de escrevê-lo para nós, para que nos últimos dias tivéssemos a verdade sobre Deus, que nos torna livres. Eu sentia a diferença entre as personalidades. Eu sentia a diferença entre os personagens. Às vezes, quando se está traduzindo, não encontramos uma única palavra perfeita, mas temos duas ou três opções. Eu orava e perguntava ao Pai Celestial: “Por favor, me ajude a saber qual palavra Alma usou”. E aí eu sabia na hora. Alguns profetas pareciam mais severos, outros mais amenos. É como se fossem diferentes bispos ou presidentes de estaca: a Igreja ainda é verdadeira, mas as pessoas têm diferentes personalidades. Eu sentia a personalidade de cada profeta que escreveu o Livro de Mórmon. Sabia que eles estavam me ajudando, e o véu era muito tênue. Eu não estava sozinha, e sei que eles estavam ao meu lado. Sei que o Livro de Mórmon é o mais poderoso dos livros. Ele mudou minha vida da noite para o dia, e vi muitas vidas serem mudadas por ele da mesma maneira.

Para encerrar, quero prestar meu testemunho. Vou traduzi-lo para xhosa, que eu ainda sei falar. Tenho muitos amigos xhosa e sempre conversamos ao telefone, então ainda falo com frequência, mas já não consigo lembrar o que falei dois segundos atrás, então não será perfeito.

Quero prestar meu testemunho de que sei que Deus pode fazer qualquer coisa, em qualquer lugar, a qualquer momento. Ele é Todo-poderoso e nos ama com infinito amor. [Em xhosa] Sei que Jesus é o Cristo, que Ele expiou tanto os meus enormes pecados quanto os pequenos pecados de vocês. [Em xhosa] Sei que o Espírito Santo testifica a verdade ao coração dos seres humanos. [Em xhosa] Sei que esta é a obra do Senhor. Senti a paixão com que Morôni disse que seremos triunfantes nestes últimos dias e que precisamos levar o evangelho a toda nação, tribo, língua e povo.42 Temos que preparar a terra para o retorno de nosso Salvador.

Sou muito feliz e sei que há uma linha tênue entre não termos vergonha e sermos orgulhosos, e eu estou bem em cima dessa linha. Eu não tenho vergonha nenhuma e quase tenho orgulho de ser mórmon, afinal creio que somos os melhores cristãos na face da terra. Compartilho essas coisas com vocês e agradeço por sua dedicação e seus esforços para edificar este reino. Sou muito grata por vocês e pela oportunidade de estar aqui hoje e prestar meu testemunho. Compartilho isso com vocês em nome de Jesus Cristo. Amém.

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Nosso Pai Celestial tem uma missão para nós, En el Púlpito, accessed 29 de março de 2024 https://www.churchhistorianspress.org/at-the-pulpit/part-4/chapter-52