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Amarás o teu próximo

Conferência de junho da Associação de Melhoramentos Mútuos

Tabernáculo, Praça do Templo, Salt Lake City, Utah

9 de junho de 1918


Enquanto a Primeira Guerra Mundial acontecia em uma terra distante, a conferência geral das Associações de Melhoramentos Mútuos dos Rapazes e Moças (AMM-R e AMM-M) de 1918, em Salt Lake City, abordava as necessidades urgentes dos jovens santos dos últimos dias, tanto no campo de batalha quanto em casa. Emma Jane Nield Goddard, (1861–1940), membro da junta geral da AMM-M, ensinou os líderes dos jovens como criar uma geração justa em tempos conturbados, concentrando-se no amor ao próximo.1 Emma Goddard nasceu em Lancashire, Inglaterra, em uma família que havia se filiado à Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias antes de ela nascer.2 Emma e as duas irmãs mais velhas, contudo, filiaram-se à congregação batista local. As três jovens trabalhavam em uma fábrica e permaneceram na Inglaterra quando os pais e o irmão mais novo imigraram para Utah, no outono de 1875. Cerca de quatro anos mais tarde, as irmãs Nield sentiam-se desconfortáveis por estarem longe dos pais e decidiram juntar-se à família. Elas viajaram para a América em 1879 e se batizaram na Igreja.3

A família Nield estabeleceu-se em Meadow, condado de Millard, Território de Utah, cerca de 260 quilômetros ao sul de Salt Lake City. Emma foi professora por muitos anos com o cunhado, Benjamim Goddard, em Kanosh, dez quilômetros ao sul de Meadow. Em 1883, ela casou-se com ele, como esposa plural.4 No inverno de 1886, ela tirou licença da escola para frequentar a Academia Brigham Young, em Provo, junto com o irmão.5 Em dezembro de 1886, ela se uniu à Sociedade de Socorro da Ala Meadow, sendo chamada alguns meses mais tarde como secretária assistente.6 Em 1889, os Goddards mudaram para Salt Lake City, onde, depois de três anos, Emma foi chamada como presidente da AMM-M da Ala 25 Salt Lake City.7 Em maio de 1896, ela foi chamada para a junta geral da AMM-M, pela presidente Elmina S. Taylor. Nesse ofício, ela serviu no comitê que organizava o currículo das Moças e no comitê do jornal Young Woman’s Journal.8

A vigésima terceira conferência anual da AMM-M e AMM-R foi realizada em Salt Lake City, nos dias 7 a 9 de junho de 1918, com uma preocupação acentuada na crise em andamento causada pela guerra mundial. Na sessão de abertura da conferência, a presidente da AMM-M, Mattie Horne Tingely, apresentou o tema da AMM daquele ano: “Defendemos o serviço a Deus e ao país”. Oradores e músicos que participaram da conferência incentivaram o patriotismo e o apoio à guerra.9 Os oradores também falaram sobre a devastação causada pela Primeira Guerra Mundial, reconhecendo que os jovens e os líderes da AMM estavam sendo afetados por terem familiares e amigos na guerra. Aproximadamente 21 mil habitantes de Utah estavam servindo nas forças armadas dos Estados Unidos, sendo que mais de 15 mil homens e rapazes eram santos dos últimos dias.10 Em casa, os jovens santos dos últimos dias americanos contribuíam com algumas entidades de apoio: a Liberty Bonds [Bônus da Liberdade], a Cruz Vermelha Americana, a United War Work Campaign [Campanha Unidos no Trabalho da Guerra] e o Fundo de Bem-Estar dos Soldados; eles também trabalhavam em hortas locais para ajudar na produção de alimentos.11

Emma Goddard falou aos líderes da AMM-R e AMM-M no domingo de manhã e seu discurso foi posteriormente publicado, junto com outros, no Young Woman’s Journal. Ela falou sobre o amor ao próximo, sendo precedida por Levi E. Young, que falou sobre o amor a Deus, e seguida por May Booth Talmage e Richard R. Lyman, que falaram sobre o serviço ao país.12

Amarás o teu próximo — esse não era um mandamento novo, quando foi dado pelo Senhor no meridiano dos tempos.13 Conforme registrado em Levítico, durante a dispensação de Moisés, esse mandamento foi dado a Israel: “Não te vingarás nem guardarás ira contra os filhos do teu povo; mas amarás o teu próximo como a ti mesmo”.14 Esta prescrição foi maravilhosamente enfatizada pelo Mestre em resposta à pergunta de um certo doutor da lei:

“Mestre, que farei para herdar a vida eterna?”

E ele lhe disse:

“Que está escrito na lei?” Como lês?”

E respondendo ele, disse: “Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento; e ao teu próximo como a ti mesmo”.

E disse-lhe: “Respondeste bem; faze isso, e viverás”.

Ele, porém, querendo justificar-se a si mesmo, disse a Jesus: “E quem é o meu próximo?”15

Vocês se lembrarão, e não preciso repetir em detalhes, a bela, ainda que simples e singela parábola contada por Cristo, sobre um homem que fora atacado por ladrões e deixado, machucado e sangrando, no caminho. O sacerdote e o levita, cada um por sua vez, passaram por ele, somente o desprezado samaritano se aproximou, e com gentileza e amor cuidou daquele homem, derramando óleo e vinho em suas feridas, colocando-o sobre seu jumento e levando-o para a pousada e, ainda fez mais, deixou com o dono da pousada uma mensagem para que o homem recebesse cuidados e que, ao voltar por aquele caminho, ele arcaria com todos os gastos extras. Então Jesus perguntou ao homem da lei: “Qual, pois, destes três te parece que foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores?” Deixando a responsabilidade da decisão para o questionador. Qual outra resposta ele poderia dar além da que deu? “O que usou de misericórdia para com ele.” Disse, pois, Jesus: “Vai, e faze da mesma maneira”.16

Em resposta a um dos escribas que perguntou qual o primeiro mandamento da lei, Jesus respondeu: “O primeiro de todos os mandamentos é: Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás, pois, o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes”.17

Este mandamento foi evidentemente compreendido pelos apóstolos e passado adiante ao longo do tempo. Paulo, ao falar aos romanos, que não tinham sido treinados nessa lei moral, afirmou:

“A ninguém devais coisa alguma, senão o amor com que vos ameis uns aos outros; porque quem ama aos outros cumpriu a lei. Pois isto: Não adulterarás; não matarás; não furtarás; não darás falso testemunho; não cobiçarás; e se há algum outro mandamento, nesta palavra se resume: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo”.18

De igual modo, em sua mensagem aos gálatas, Paulo repetiu o mandamento, dizendo: “Porque toda a lei se cumpre em uma só palavra, nesta: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo”.19

Se todas as nações cristãs tivessem sido guiadas por essa lei, dada pelo Mestre como uma regra de ouro para Seus seguidores, não haveria guerras ou contendas, mas paz na terra e a boa vontade entre os homens prevaleceria.

Como consequência da violação dessa lei, a miséria incontestável, a tristeza e a morte agora existem no mundo, e quem pode dizer quando isso vai acabar?20 Em breve, nossos jovens soldados feridos voltarão para casa, e novamente haverá “lamentação, choro e grande pranto; Raquel chorando por seus filhos, e não quis ser consolada, porque já não existem”.21 Sob essas condições, teremos muitas oportunidades para demonstrar nossa fé no mandamento do Mestre de amar ao próximo, nos esforçando para consolar e animar os angustiados, lembrando que a “religião pura e imaculada” é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações, e guardar-se imaculado do mundo.22 Todos os dias estamos cercados com oportunidade de colocar em prática esse mandamento divino.23

Como esse maravilhoso mandamento se aplica a nós, os líderes dessas grandes organizações? Esses meninos e meninas, rapazes e moças por quem somos responsáveis são, de fato, o nosso próximo. E por isso, precisam mais do que nunca de nossa maior ajuda e apoio nessa época crítica da história da humanidade. Precisamos protegê-los de todos os modos, pois estão cercados dos tipos mais sutis de tentação. Eles são jovens e inexperientes e amam naturalmente a liberdade, tendo suas ideias próprias de como se divertir. Precisamos guiá-los e aconselhá-los neste período de sua adolescência para que formem um caráter forte e vigoroso. Precisamos entrar nas trincheiras de suas tentações e ajudá-los a lidar com elas e sobrepujá-las. Precisamos estudá-los e procurar compreendê-los, pois muitas vezes, se tivéssemos procedido dessa forma, teríamos encontrado um caminho para chegar no coração dos que parecem mais descuidados e indiferentes.

Edgar A. Guest disse:

Quando pensas em alguém criticar,

E tua fala é de desprezo e culpa,

Conheça melhor essa pessoa,

Além do nome e do cargo que ocupa,

É provável que ao conhecê-la,

Se desfaça o teu preconceito,

E você até goste dela,

Mesmo encontrando algum defeito.

Quando tens um novo amigo,

E compreendes seu pensar,

Então, as falhas não importam,

Porque há sempre o que elogiar.24

Precisamos mostrar a nossos jovens a glória da retidão, e não a sordidez do pecado, ensiná-los que as leis do evangelho vivo trazem alegria e paz duradouras, em vez da angústia que segue uma vida desperdiçada.

Para chegar ao coração deles, nós mesmos devemos nos aproximar do Senhor. Deus é cheio de amor, e quanto mais possuirmos esse atributo, mais bem-sucedidos seremos.25 Nossos jovens precisam sentir esse amor, esse nosso total desejo de ajudá-los e abençoá-los. Mas se, depois de todos os nossos esforços, alguns errarem e se tornarem sujeitos a maus hábitos e forem deixados feridos e sangrando no caminho, o que devemos fazer com eles? Como o bom samaritano, devemos estender as mãos, e com ternura e amor, trazê-los de volta e firmá-los uma vez mais no caminho reto e estreito.

Com gentileza olhe para quem erra!

Oh, não esqueça esta lição

Mesmo manchado pelo pecado

Ele ainda é nosso irmão.

Podemos proteger o que erra!

Ao tratar e falar com carinho,

Com palavras sagradas de amor,

Da miséria e do espinhoso caminho.26

Devemos ser diligentes e sinceros, sempre mostrando por meio de nosso exemplo que acreditamos no evangelho, que o amamos de alma e coração e que nos esforçamos todos os dias para viver de acordo com seus preceitos. Devemos doar a nós mesmos junto com os dons que possuímos, como diz Lowell:

Não é o que damos, é o que compartilhamos,

Pois compartilhar é dar um presente e parte de si,

Quem se entrega com o seu presente, na verdade dá a três.

A si próprio, a ele e a mim.27

“Porque Deus amou o mundo de tal maneira, que deu o seu Filho Unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.”28

J. S. Spalding disse: “Se a justiça é uma lei universal, o amor é um dever universal. Somente o amor pode nos tornar justos com nós mesmos”.29 Nossos membros precisam sentir que os amamos e que temos um interesse real e verdadeiro por eles.

Não conheço um exemplo mais refinado desse tipo de professor do que o Dr. Karl G. Maeser.30 Ele era totalmente dedicado ao seu trabalho. Todos os seus alunos sentiam sua influência benigna. As bênçãos pareciam cair sobre aqueles a quem ele ensinava. Os alunos sentiam sua presença. Sempre que entrava na classe, rapidamente a ordem reinava onde havia conversa negligente de rapazes e moças descuidados. Os alunos sentiam o desejo de ser e fazer tudo o que ele ensinava. Seu sorriso de aprovação era um prêmio suficiente para seus esforços mais intensos. Por meio de seus ensinamentos mais elevados, eles eram levados a consagrar a vida e tudo o que tinham para a profissão para a qual estavam se qualificando. Ele estudava cada aluno individualmente e os compreendia. Ele sabia exatamente quando e como administrar uma repreensão, ou oferecer uma palavra de louvor e incentivo e, até mesmo, mostrar um cuidado mais amoroso. Faríamos bem em seguir seu nobre exemplo. Devemos procurar liderar e não coagir, lembrando o mandamento do Mestre: “Segue-me”. “Apascenta as minhas ovelhas”.31

Nos anos que se aproximam, precisaremos nos esforçar e nos envolver nas atividades sociais de nossos membros e exortá-los a evitar toda a aparência do mal. Os acompanhantes e protetores naturais de nossas moças são seus irmãos e namorados, mas eles estão fora, defendendo a bandeira de nosso país; portanto, devemos exortar mais do que nunca as moças, que em todas as suas atividades, especialmente quando estiverem fora de casa à noite, elas precisam ter quem as acompanhem. Devemos ensinar-lhes que uma dama de companhia não é uma espiã, mas uma amiga, uma protetora, uma conselheira sábia e amorosa. Na verdade, é apropriado e a ética exige que elas estejam acompanhadas em uma festa.

A juventude é um tempo de doces e inocentes alegrias; portanto, devemos incentivar e, na medida do possível, fornecer-lhes tais prazeres. Mas, além de nos interessarmos por sua vida social, devemos mostrar a nossos jovens a seriedade do momento pelo qual estamos passando e a necessidade de que cada um assuma alguma responsabilidade pessoal para ajudar a levar a causa da verdade e da liberdade à vitória. Todos podemos fazer nossa parte, não importa se pobres com poucos recursos ou ricos e influentes. Nossos rapazes estão na frente da batalha arriscando tudo o que têm.32 Não devemos estar desejosos de fazer, com prazer e alegria, algum pequeno sacrifício e deixar alguma coisa de lado aqui em casa? Uma obrigação sagrada repousa sobre cada um de nós e a gravidade da situação exige que controlemos nossas frivolidades e ofereçamos nossa força e energia juvenil para apoiar o chamado de nosso país e das nações aliadas nesta luta mundial por um reinado de retidão e não de poder.

Que Deus nos ajude a compreender a imensidão do trabalho que recai sobre nós e nos conceda força e sabedoria para desempenharmos nosso dever em relação a esse trabalho. Que possamos, durante esta conferência, nos imbuirmos completamente deste espírito de ministração e trabalho. Sim, que consagremos nossa própria vida, se necessário, para o estabelecimento da paz e da justiça na Terra, demonstrando plenamente que realmente “amamos nosso próximo como a nós mesmos”.

Ao ajudar a criar uma geração justa, certamente estaremos prestando o melhor serviço a Deus e ao país.

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Amarás o teu próximo, En el Púlpito, accessed 26 de abril de 2024 https://www.churchhistorianspress.org/at-the-pulpit/part-2/chapter-28